CLAUDIO PIGHIN'S COMMUNICATION AREA                        clpighin@claudio-pighin.net

Primo sito dedicato esclusivamente alla
comunicazione nell'Evangelizzazione

Home 

Autor

Informações

Livros/Textos

Vídeos

Hospedes

PASCOM

Links

ApogeOnline

News

  


Copyright © 2003 PASCOM

 

 Livros - Textos

PARA UMA REFLEXÃO SOBRE COMUNICAÇÃO, MÍDIA E PODER

 

E sem dúvida o nosso tempo... prefere a imagem à coisa, a cópia ao original, a representação à realidade, a aparência ao ser... Ele considera que ilusão é sagrada, e a verdade é profana.

E mais: a seus olhos o sagrado aumenta à medida que a verdade

decresce e a ilusão cresce, a tal ponto que, para ele, o  cúmulo da ilusão fica sendo o cúmulo do sagrado.

Feuerbach (Prefácio da Segunda edição de A essência do Cristianismo. IN A Sociedade do Espetáculo de Guy Debord).

    A comunicação sempre ocupou um espaço importante no desenvolvimento histórico da humanidade, influenciando, em épocas variadas, os campos da vida societária, a saber: a economia, a sociabilidade, a cultura e a política. Portanto, se a comunicação é hoje tema tão significativo para o debate na academia e em outros segmentos da vida social, principalmente no que tange as novas tecnologias da comunicação e/ou novas mídias é porque, na verdade, ela sempre foi um elemento fundamental para a compreensão do homem, desde à caverna, até às modernas aglomerações contemporâneas.

  Neste sentido, se a comunicação sempre foi algo importante para vida em sociedade, as pesquisas e descobertas que desvendam os "mistérios" do uso dos meios de comunicação nos mostram cada vez mais como a comunicação e suas mediações ocuparam e ocupam espaços de poder. Não se pode negar a importância histórica que os folhetins, tablóides e boletins tiveram para difusão do paradigma capitalista no final do antigo regime feudal. Os veículos de comunicação impressos, em ampla expansão, principalmente a partir do aperfeiçoamento dos tipos móveis de impressão no século XV, vão impulsionar e possibilitar a difusão, em larga escala, do novo modo de produção e da ideologia burguesa ascendente. Exemplo atual desse poder se encontra nas mídias (rádio-jornal-televisão-internet) que têm, conforme Denis de Moraes (2003) um duplo papel estratégico. "O primeiro, diz respeito a sua condição peculiar de agentes operacionais da globalização, do ponto de vista da enunciação discursiva. Não apenas legitimam o ideário global, como também o transformam no discurso social hegemônico, propagando visões de mundo e modos de vida que transferem para o mercado a regulação das demandas coletivas. O segundo, refere-se ao lugar de destaque que a mídia passa a ocupar   no âmbito das relações produtivas e sociais, visto que é no domínio da comunicação que se fixa a síntese político-ideológica da ordem hegemônica".

                        Portanto, considerando essas assertivas a comunicação e a mídia ocupam dois espaços centrais na vida societária: é fonte de expressão cultural, aqui entendida como um conjunto de sentidos e significados, de valores e de padrões incorporados e perceptíveis na ação comunicativa; e, é também centro do processo de acumulação capitalista do mundo moderno, aqui compreendido como responsável pela reprodução do capital, através da circulação em massa das novas tecnologias da comunicação, sendo referência imprescindível da economia imaterial.

                        Conforme Maraes (2003) a mídia atua tanto na adesão à globalização capitalista quanto por deter a capacidade de interconectar o planeta, através de satélites, cabos de fibra óptica e redes infoeletrônicas. "Pensemos na CNN, que distribui por satélites e cabos, a partir da matriz em Atlanta, notícias 24 horas por dia para 160 milhões de lares em 200 países e 81 milhões nos EUA, além de 890 mil quartos de hotéis conveniados. O mundo em tempo real quase sempre sob o prisma norte-americano".  Sob esse aspecto, Moraes conclui que o resultado da articulação existente entre o modo de produção capitalista e as tecnologias de comunicação e informação gera uma sinergia que alimenta a acumulação de capital financeiro numa economia de interconexões eletrônicas.

                        De fato não seria exagero afirmar como indica Guareschi (2000) que a comunicação constrói a realidade. "Num mundo  permeado de comunicação - um mundo de sinais - num mundo todo teleinformatizado, a única realidade passa a ser, a representação da realidade - um mundo simbólico, imaterial. Na interpretação de Bourdieu a comunicação é um poder simbólico que constrói o discurso dominante fundado, essencialmente, a partir do paradigma político-ideológico da classe hegemônica, que nas reflexões de Zigmunt Bauman (2001) é concebido como modernidade líquida. Conforme este autor a época da modernidade pesada, em que o tamanho, volume, peso e parques industriais, a era do hardware, foi substituída pela instantaneidade do software, indispensável a volatilidade das transações financeiras eletrônicas, a economia imaterial dos mega mercados financeiros.

                        A idéia de que vivemos em uma sociedade da informação (mercadológica e perecível) se multiplica em rede cada vez mais ampla e difusa. Tal rede é, de fato, é cada vez ampla, mas também mais concentradora, quanto no que diz respeito ao seu controle, quanto aos conteúdos transmitidos. "A liberdade de expressão tornou-se tão cara, como o custo crescente dos meios, que a comunicação de massa tem sido uma forma de cada vez menos gente dizer menos coisas a um número cada vez maior de pessoas, reduzidas à passividade. O desenvolvimento dessa indústria, feito sem controle social, tem se tornado um obstáculo à ação comunicativa das pessoas entre si". Benjamim (1998).

                        De acordo com Moraes a mídia global está nas mãos de duas dezenas de conglomerados, com receitas entre 5 a 35 bilhões de dólares. Eles veiculam dois terços das informações e dos conteúdos culturais disponíveis no planeta. No Brasil, cerca de sete a onze famílias controlam os grande meios de comunicação e são responsáveis pela veiculação da maioria das informações que temos acesso diariamente. Pela legislação aprovada em 2002 pelo Congresso Nacional, o capital estrangeiro terá prerrogativa de deter até 30% do capital de empresas jornalísticas e emissoras de rádio e tv. Há um justificado temor de que a crise financeira no setor, o endividamento externo e a falta de mecanismos de fiscalização facilitem o domínio das empresas pelos sócios internacionais, visto que o monopólio da comunicação pelas corporações de mídia, impede o debate plural e democrático das idéias.

                        Talvez seja esse um dos possíveis cenários, do qual deve partir as discussões sobre ética na mídia: a sociedade não imaginou que a modernidade criasse tantas informações, imagens e sons. Mas, quem comanda e objetiva os bens simbólicos? Quem define o que vai ser produzido, como e onde? Se queremos uma mídia eticamente democrática não podemos se omitir a esse debate, a compreensão do cenário midiático hegemônico. Construir alternativas pressupõe o discernimento dos mecanismos de poder que criam e recriam a gaiola de ferro da comunicação e da informação, da mídia e das novas tecnologias da informação.

                        Apesar do poder avassalador que possui a mídia, a sociedade não é tão apática e passiva frente ao poder de manipulação dos meios de comunicação. Há, evidentemente inúmeras possibilidades e mecanismos para a construção de uma mídia eticamente democrática. Apesar de não se tratar de uma tarefa fácil, Habermas (1989) sugere, por exemplo, uma diferenciação entre o mundo do sistema e mundo da vida. Através do processo de comunicação, entre sujeitos autônomos e conscientes é possível construir, na esfera pública, relações baseadas no agir ético e democrático, uma relação dialógica onde os consensos orientam as práticas sociais do mundo da vida, rompendo, desta feita, com o mundo do sistema, onde se reproduzem simbolicamente as relações de poder.

                        Para Moraes se desejamos a livre circulação de informação, é hora de revitalizar a sociedade civil e arregimentar forças a urgente tarefa de propor e consolidar alternativas concretas à mercantilização genaralizadora. “Insistimos, por exemplo, no estabelecimento de políticas públicas de comunicação, assentadas em mecanismos democraticamente instituídos de regulação, de concessão, de distribuição e fiscalização. Políticas debatidas por segmentos representativos da opinião pública e formulados com equilíbrio e realismo, considerando as profundas transformações da era digital e seus efeitos socioculturais e políticos”. Um dos caminhos seria a construção de redes de sociabilidade que constroem e dão ressonâncias a campanhas em prol da democratização da esfera pública no planejamento da comunicação.

                        Na leitura atenta de Jesús Matin-Barbero (2003) a possibilidade de construção de uma ética na comunicação pressupõe também uma atenção especial às novas comunidades e sociabilidades que se constroem frente a hegemonia do discurso do mercado global. Encontro de sujeitos conscientes de seu papel social, que através de emissoras comunitárias dão novo sentido a relação entre política e cultura. Quando os movimentos de bairros e comunidades encontram, em um espaço público como aquele que uma rádio abre, a possibilidade não de serem representados, mas de serem reconhecidos: "de fazer ouvir a própria voz, de poder dizer-se com suas linguagens e relatos. Vista a partir da comunicação, a solidariedade desemboca na construção de uma ética que se encarrega do valor da diferença articulando a universalidade humana dos direitos à particularidade de seus modos de percepção e expressão".

Acredito também que um caminho a ser construído nesse cenário de conquista da ética e da cidadania na mídia deve passar pela comunicação comunitária. A mídia constrói a cidade, uma cidade simbólica que a população passa a ver. O problema é que a visão construída pela mídia - jornal, rádio, televisão e internet - é uma visão hegemônica. A proposição é a formação de profissionais que pensem a comunicação como uma ação ética, ou seja, um comportamento moral em relação às necessidades sociais. O que o profissional faz hoje é muito mais proteger o "seu" emprego do que lutar para que ele possa trabalhar com liberdade para o exercício de uma atividade cuja essência é prestar um serviço à comunidade. Assim, é preciso além da liberdade de expressão e opinião, uma visão da comunicação como algo comunitário, como é de sua natureza essencial, e que vai influenciar pessoas no comportamento, no julgamento de ações, engajamento societário e conseqüentemente possibilitando o surgimento de novas sociabilidades a partir do emprego ético da ação comunicativa.

Falar de ética ainda, é tomar uma posição. Nós precisamos nos colocar contra o que está sendo feito, embora afirmando este poder que sabemos hegemônico, mas que aqui e acolá foge da regra e faz coisas boas. A mídia traz muita coisa boa ao meu ver. A postura dos meninos no Fórum que aconteceu no Rio semana passada, é muito boa,  eles criticaram e mostraram como pode ser feito melhor, é assim que eu penso também.

                        Para os discentes e docentes em comunicação social, seja Jornalista, seja Publicitário, seja Relações Públicas fica a árdua tarefa de sermos também nós construtores da ética nos espaços comunitários e nos meios de comunicação social. Para tanto é necessário desenvolver, pelo menos, três aspectos fundamentais da vida acadêmica e profissional: saber fazer, que se refere a dimensão técnica; saber conhecer, que se entende como o domínio teórico dos fundamentos e da epistemologia das comunicações; e saber pertencer, que diz respeito, essencialmente, aos interesses da esfera pública, da necessidade de difundir nos mais variados meios, seja comunitário, empresarial e familiar o compromisso com a ética e a democratização da mídia, bem como ao acesso às novas tecnologias da informação para que estejam à serviço da VIDA E DA ESPERANÇA.

Referências Bibliográficas

 

BAUMAN. Zigmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.

BENJAMIM.César [et. al.]. A Opção Brasileira. Rio de Janeiro: Contraponto, 1998.

GUARESCHI. Pedrinho A. [et. al.]. Comunicação & Controle Social. Petrópolis: Vozes, 2000.

BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro. Bertrand Brasil. 1998.

HABERMAS, J. Consciência Moral e Agir Comunicativo; trad. Guido A. De Almeida. - Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1989.

MARTIN-BARBERO. Jesus. Globalização Comunicacional e Transformação Cultural. IN. MORAES. Denis de [et. al]. Por uma outra comunicação: Mídia, mundialização cultural e poder. Rio de Janeiro: Record, 2003.

MORAES. Denis de [et. al]. Por uma outra comunicação: Mídia, mundialização cultural e poder. Rio de Janeiro: Record, 2003.

 

Jax Nildo Aragão Pinto[1][1]


 

[1] Graduado em Comunicação Social, Relações Públicas; Especialista em Populações Tradicionais da Amazônia, Mestrando em Sociologia pela UFPA e Professor do Instituto de Estudos Superiores da Amazônia IESAM.

 

Pensiero del giorno