I. SÍNTESE  HISTÓRICA DO MOVIMENTO CATEQUÉTICO BRASILEIRO DEPOIS DO CONCÍLIO VATICANO II

 

 A Catequese Brasileira celebrou os seus 500 anos de história em 2001, mas tratarei neste capitulo, somente do Movimento Catequético brasileiro depois do Concílio Vaticano II, que recebeu um grande impulso com a sua realização, favorecendo a renovação Eclesial brasileira , que ainda hoje produz seus frutos.

         O Concílio afirmou com muita clareza a importância da catequese em toda pastoral da Igreja, (não esquecendo de recordar aos bispos os seus deveres de anunciar a palavra de Deus) junto com a homilia  na liturgia, ocupa o primeiro lugar[1].

 

“Para anunciar a doutrina cristã cuidem de empregar os variados caminhos que no tempo moderno estão a mão. E isso, sobretudo para a pregação e instrução catequética. Estas sempre ocupam o primeiro lugar”[2].

 

         O Decreto Christus Dominus, em um dos seus parágrafos tornou-se importante para o renovação da catequese onde define a natureza, o fim e os seus objetivos, dando assim um impulso grandíssimo para a sua renovação[3].  Neste decreto sobre o múnus pastoral dos bispos, não foi esquecido da catequese dos adultos e do catecumenato, como fontes da catequese. Sentiu-se também a grande necessidade de valorizar as ciências humanas, para uma boa  preparação dos catequistas.

         O Concílio valorizou o lugar da bíblia, da Igreja e do homem na catequese,  impulsionando muitíssimo os movimentos catequéticos.

         O homem deve readquirir sua dignidade e tornar-se protagonista e destinatário da catequese, em um respeito contínuo às diversas faixas de idade.

         Com a Constituição Gaudium et Spes a Igreja ressalta o valor e a dignidade do homem a imagem e semelhança de Deus[4]. O Concílio mostrou uma nova imagem de Igreja, como povo de Deus,  socializando, dialogando e tornando-se mais humana com a cultura contemporânea[5].  Esta visão de Igreja e do homem que o Concílio revelou, veio enriquecer a nova maneira de fazer catequese, como também fez  redescobrir o valor da Palavra de Deus[6].

         O modelo de catequista estava mudando, dando assim um novo espaço para os leigos na ação ministerial da Igreja. O povo de Deus  tornou-se protagonista da evangelização e catequese, não medindo esforços, mas colocando todas as suas possibilidades e capacidades a serviço do evangelho; portanto, gradualmente foi superando a imagem de Igreja individualista para tornar-se uma dimensão eclesial, povo de Deus. Todo cristão como Igreja é responsável em desenvolver à ação catequética[7], sendo particularmente sua principal missão, onde exercerá o ministério profético e missionário nas diferentes vocações (episcopal, sacerdotal, religioso(a)s e o laicato cristão) tornando a Igreja mais rica na sua variedade ministerial, mas com igual fidelidade; portanto toda Igreja é catequista[8].

 

 

1.1            Breve perfil da Diocese de Jundiaí

 

A Diocese de Jundiaí foi ereta em 1966, tendo como seu primeiro bispo D. Gabriel Paulino Bueno Couto OCD, que iniciou a formação teológica para leigos, e mais tarde constituída Escola Catequética.

Organizou junto com seu bispo auxiliar D. Roberto Pinarelo de Almeida as pastorais na diocese, fundou o seminário diocesano para iniciar a formar os futuros presbíteros da diocese.

Com a sua morte em 11/03/82, D. Roberto continuou com todo dinamismo pastoral o pastoreio desta Igreja particular. Favoreceu a organização da mesma, com o protagonizo dos leigos na Igreja, e grande florescimento de vocações sacerdotais, quando em 1997 (+27/7/02) por motivos de saúde renuncia esta missão, passando para o seu sucessor D. Amauri Castanho, até aquele momento era seu bispo auxiliar.

D. Amauri com seu zelo pastoral e espírito missionário continuou a grande missão de evangelização e catequese nesta diocese até 6/01/04, quando entrou em pensão. O Santo Padre João Paulo II nomeou para substituí-lo sua excelência D. Gil Antonio Moreira, bispo auxiliar de São Paulo.

Sendo a diocese de Jundiaí de característica industrial (nos seus quase Um milhão de habitantes), foi necessário organizar as pastorais nas suas 53 paróquias, divididas em 8 regiões pastorais, distribuídas em 11 cidades para que pudesse corresponder  as necessidades dos cristãos.

Pressionados pela multiplicação constante de seitas e movimentos neo-pentecostais, a mudança contínua de fiéis para outras denominações religiosas, e que também deveriam estarem atentos ao desequilíbrio social da grande cidade, ( meninos de rua, mendigos, prostitutas, drogados, favelados, homens e mulheres desempregados pela crise econômica) tudo isto motivou a organização da pastoral social da diocese em especial da cidade de Jundiaí, como também a intensificação da formação de leigos com a escola catequética, para atuar na evangelização, catequese, promoção humana, meios de comunicação.

Ainda é desafiante a força dos meios de comunicação que transmitem suas mensagens não sempre construtivas e que os valores da família procuram destruir para construir uma nova cultura sem valores morais, onde tudo é permitido, perdendo o respeito pela dignidade humana, sendo que tantos ainda precisam ser formados para uma capacidade crítica no uso da mídia, e assim preservar os valores cristãos.

Dentro desta realidade se calcula que exista 1.100 catequistas cadastrados, isto é: que participam nos encontros Regionais de catequistas (uma vez por ano em cada Região Pastoral) e  na Concentração Diocesana no dia Nacional dos Catequistas no último domingo de agosto.

         Calcula-se que a Diocese de Jundiaí possua cerca 4.000 catequistas entre (Batismo, pré-catequese, Primeira Eucaristia, Perseverança, Crisma, Familiar, Adulto).

A freqüência na Escola Diocesana calcula-se 10% dos catequistas, que tem como finalidade, preparar os leigos para o exercício do seu ministério.

Com o grande número de catequistas e a pouca participação nos encontros de formação promovidos pela equipe diocesana, se conclui que temos poucos catequistas realmente preparados para o exercício do seu ministério, em especial no caso que estamos tratando da catequese com adultos, pois é um tema que iniciou-se a dar conscientização a nível nacional a partir 2001-2002, com a 2ª SBC[9].

 

DIFICUlDADES

 

Ø     Falta  clareza na própria Vocação ministerial Catequética, não dando tanta importância a sua própria formação, e como conseqüência seus encontros são improvisados. O  resultado é os cristãos que temos, incapazes de serem coerentes com a fé professada, não dando testemunho, sendo abertos a todo tipo de ofertas religiosas, não sabendo dar razões a própria fé.

 

Ø     Clareza quanto a espiritualidade missionária do catequista, para não confundir-se com outros tipos de espiritualidade oferecidas. Esta será o motor da ação do catequista missionário.

 

Ø     O pluralismo religioso, fortemente presente na realidade diocesana, trazendo o desafio na preparação de catequistas que sejam capazes de dialogar com o diverso, e ao mesmo tempo denunciar tudo o que vai contra a dignidade da pessoa e a verdade, que exploram a ignorância religiosa do indivíduo.

 

Ø     Formação humana cristã do catequista, não é o suficiente para enfrentar os desafios atuais, da afetividade, da família e da sociedade.

Ø     O contraste sócio econômico cultural, das regiões mais ricas da diocese  que julgam-se não precisar de formação, e temos as da periferia, onde faltam espaços para realização dos encontros, locomoção e subsídios.

 

Ø     Na metodologia catequética, existe dificuldades na sua prática, cada um faz como quer. Falta comunhão nos grupos de catequistas, favorecendo o individualismo eclesial, fechando-se a possibilidade de receber formação para o exercício do ministério.

 

Ø     Falta estimulo para o uso dos meios modernos de comunicação, como também a capacidade crítica nos mesmos[10].

 

Analisando esta realidade complexa e desafiadora (cultural, social, econômica e religiosa) se fará uma proposta para a formação dos catequistas de adultos desta diocese segundo as dificuldades enfrentadas nomeadas anteriormente.

Será feito um breve aceno do Movimento Catequético Brasileiro, onde se conhecerá um pouco da  história catequética no Brasil depois do Concílio Vaticano II, onde também a diocese de Jundiaí no seu processo de evangelização e catequese encontra sua base de atuação.

 

 

 

 

         

1.2            A Semana Internacional de Catequese (Medellín)

 

         Esta semana propôs que através da catequese a mensagem evangélica fosse  proclamada de maneira renovada; manifestando a unidade da história da salvação realizada por Jesus, com a Igreja,  com as aspirações do homem moderno, o povo de Deus.

As características da catequese seriam libertadoras, porque deveriam se empenhar em ajudar o homem a libertar-se de todo tipo de opressão social e política. Foi através desta semana internacional de Medellín que a Catequese Latina Americana e Brasileira tomou novos rumos, pois ela já não seria somente antropológica, mas iria além; sua preocupação passaria a ser sociológica, interpretativa, situacional, procurando conhecer a realidade do destinatário da catequese, para que a mensagem evangélica pudesse ser libertadora[11].  

A partir de 1969  em todos os encontros catequéticos Brasileiros estavam presentes as metas de Medellín, além de terem sido elaborados tantos textos na linha libertadora, tendo a contribuição da Revista Latina Americana, sendo da responsabilidade do CELAM.  

 

1.3 Contribuição da CNBB no Movimento Catequético

 

Com o desejo de responder o mais rápido possível à imagem de Igreja do Vaticano II, o Brasil deu a sua primeira resposta com a elaboração do Plano de Pastoral de Conjunto (PPC), elaborado pela CNBB e aprovado para entrar em vigor em 1966 a 1970[12].

         Neste PPC foram organizadas seis linhas fundamentais de trabalho com objetivos e atividades específicas, das quais a linha três promovia a ação catequética, o aprofundamento doutrinal e a reflexão teológica.

         Este documento no que se refere à catequese valoriza muito este ministério, reconhecendo que o “cristianismo transformou-se ritualismo quase vazio, sem contato vital com o mistério de Cristo, sem inserção na comunidade de Igreja”[13]. Propõe-se o aprofundamento doutrinal da comunidade eclesial de base, para deste modo  inserir cada vez  mais o cristão em uma comunidade concreta, e não se esquecendo de solicitar a intensificação da formação de catequistas e teólogos. Reconhece-se que se deve dar grande importância aos sacramentos.

         Estas são as linhas dadas pelo PPC de 1966. Este plano fez com que a catequese brasileira depois do Concílio Vaticano II desses seus passos.

         A grande missão da catequese é “despertar para a vida e ações comunitárias, em suas atividades, não se limitar a um tipo de destinatário na preparação  aos sacramentos, mas deve envolver todas as faixas de idades com modalidades de catequese diversas”[14].

         A prioridade para a formação de agentes fez com que surgissem tantos lugares na catequese, favorecendo o empenho de fé e vida, para uma maior vivência do cristianismo. Através de passos lentos, mas persistentes na reflexão teológica da realidade brasileira, foi possível  tomar consciência das condições: histórica, social e religiosa dos destinatários da catequese, com suas necessidades como povo de Deus, com o objetivo de projetar linhas para a renovação catequética.

         Foi desta maneira que a catequese iniciou a ter fisionomia da nossa cultura, liberando-se dos modelos europeus, não abandonando as contribuições dos movimentos bíblicos, litúrgicos, teológicos e dos métodos pedagógicos dos anos passados.

         A Igreja Brasileira entusiasmada com as decisões do Concílio Vaticano II em seu PPC elaborado, manifestou o grande desejo de renovar a sua maneira de ser Igreja, por isso dedicou-se muitíssimo a preparação da Semana Catequética Internacional de Medellín,  promovendo uma conscientização através de estudos, com a realização do Encontro Nacional de Catequese, no Rio de Janeiro, promovido pelo secretariado nacional da CNBB; dos dias 1 a 5 de julho 1968. Este encontro avaliou o Movimento Catequético no Brasil durante os últimos cinco anos e fez projetos para o futuro.

         Nesta Semana Nacional de Catequese chegou-se a algumas conclusões, tais como: “A catequese é fruto de uma reflexão feita em comunidade, à luz da fé no seu processo histórico, onde Jesus se revela ao homem. É importantíssimo a comunicação de massa, como também as reflexões em grupos e o trabalho para a promoção das comunidades eclesiais de base, ajudando-as a superar a marginalização humana”[15].  

Esta mentalidade nova que nasce com o concílio, faz surgir uma nova imagem de evangelizador.

 

“Um homem inserido no processo histórico da comunidade, servindo-a para que atinja maior consciência e expresse sempre mais claramente os aspectos de libertação e a construção em Cristo”[16].      

 

A nossa catequese manteve até 1968 os princípios pedagógicos de Munique e do ativismo pedagógico, centralizando-se na eclesiologia e na antropologia do Vaticano II, impulsionada pelo PPC.

         Medellín vem transformar a catequese com o seu pensamento inovador, “o impulso revolucionário vem de Medellín: o Terceiro Mundo, hoje, lança os seus refletores sobre o Primeiro que o gerou”[17].

 

a) 10a Assembléia Geral da CNBB – SP (1969)

 

         Nesta assembléia foi apresentado pelo secretariado nacional o relatório das atividades anuais com a análise da situação da catequese com suas aspirações, deixando claro a urgência de uma compreensão maior da realidade evangelizadora e catequética (infância, adolescente e adultos), devido à nova situação histórica e cultural que a nossa sociedade estava passando.

         Pensou-se em consolidar em todas as regiões um Plano de Pastoral para que desse continuação ao movimento catequético, abandonando deste modo o racionalismo (formas memorizadas) e passasse  para a “redescoberta da mensagem cristã no exercício comprometido da missão profética da Igreja a serviço do diálogo fraterno”[18].

 

b) Encontro Nacional de Evangelização de adultos (1970)

 

         Este encontro foi importantíssimo para os novos rumos da catequese Brasileira no mesmo espírito de Medellín. Sendo realizado no Rio de Janeiro de 4 a 6 de novembro 1970, onde se iniciou um caminho rumo à Catequese Libertadora dentro do nosso contexto, suscitando um interesse maior para os adultos como principais destinatários da catequese[19].

         Durante o encontro foram analisadas e delineadas as problemáticas da catequese para apontar linhas de ação:

 

Ø     A evangelização e catequese deverão partir da situação do destinatário, da sua história, das suas aspirações e dificuldades, sendo ali o lugar da salvação que levará a libertação, a comunhão fraterna e  à abertura a esta salvação presente no seu contexto de vida.

 

Ø     A situação existencial é o ponto de partida da evangelização, para um compromisso e participação nas lutas para a libertação do povo. A função do evangelizador é despertar, organizar, e formar lideranças para ação, que deverá ser refletida em grupo para não se tornar ativismo; por isso o animador será formado na capacidade de análise da realidade.

 

Ø     A evangelização deverá expressar a libertação revelada do mistério agindo na história, contra toda ideologia dominante que explora os menos favorecidos.

 

Ø     A Igreja deverá esclarecer a sua imagem de homem, de comunidade, de desenvolvimento social, para que possa tomar posição correta, de modo unitário, coletivo e público”[20].

 

  Decidiu-se neste encontro criar um órgão nacional de representação de pessoas, que estão dispostas a dedicar-se à evangelização de adultos em grupos e equipes de evangelizadores, criando também um boletim para informações.

 

c) A Catequese nas Diretrizes Gerais da CNBB (1975-78)   

 

         No primeiro capítulo deste documento[21] ressalta a importância do ministério da Palavra, onde a renovação bíblica catequética está crescendo. A pastoral sacramental renovou-se através de uma profunda preparação aos sacramentos, enfatizando a catequese infantil, que tinha sido uma  característica do período anterior do Vaticano II. Passa então para a acentuação da evangelização de adultos, que recebe  o caráter bíblico e vital encarnado nas comunidades de base.

         As orientações da CNBB com suas justificativas se torna como um pequeno Diretório Catequético Brasileiro.

 

1.4 A catequese no Plano Bienal (1970-1978)

 

a)     Realizou-se em fevereiro de 1971 a 12ª Assembléia Geral da CNBB, em Belo Horizonte, sendo que as suas atividades estavam em torno do Diretório Catequético Geral – 1971. Decidiu-se que permaneceria a mesma diretriz do PPC sem nenhuma alteração, pois ainda correspondia com as necessidades do momento, continuando a iluminar as atividades pastorais do país.

 

b)    Decidiu-se no 2º PB pelos objetivos globais, definidos na comissão episcopal de pastoral, depois de analisar e refletir sobre a  realidade brasileira, descobrindo as necessidades de maior urgência daquele período.

         

Objetivos globais:

 

Ø     Intensificar a vida comunitária na Igreja, integrando as pessoas na Igreja particular local.

Ø     Intensificar a formação dos leigos, para que assumam a sua missão na Igreja e no mundo.

Ø     Promover na Igreja a sua atuação profética na sociedade brasileira[22].

 

Os objetivos específicos:

 

“Ajudar as Igrejas locais a renovarem as Instituições Evangelizadoras, dando testemunho de comunidade de fé, procurando formar a consciência cristã dos adultos, para que possam ser testemunhas do evangelho no mundo”[23].

 

c) A catequese continua suas atividades dentro do PPC da CNBB da linha três, que teve como prioridade para  o  biênio:

 

Ø     Os problemas relacionados ao Ensino Religioso e sua regulamentação, avaliação e programação, experiência de formação e aperfeiçoamento de professores catequistas, como também se interessou pelos problemas relacionados aos sacramentos de iniciação cristã.

 

Ø     A Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi reforçou a ação pastoral da Igreja no Brasil, tendo uma grande repercussão nas comunidades e grupos de agentes de evangelização e catequese, sendo objeto de estudos e reflexões, como também foi inspiração para os projetos do 3º Plano Bienal, em particular da ação social, linha seis[24].

 

Continua o projeto em nível nacional da pastoral planejada, sendo escolhido pela comissão episcopal algumas prioridades:

 

Ø     Comunidades eclesiais de base

Ø     Pastoral familiar

Ø     Pastoral urbana

Ø     Responsabilidade da Igreja  em face da ordem temporal

  A linha três assumiu a reflexão sobre a função evangelizadora das comunidades de base, avaliação de experiências da catequese catecumenal, orientações e subsídios para os sacramentos de iniciações de base; avaliação de experiências de pais catequistas, análise das experiências pastorais dos santuários, reflexões sobre a situação da catequese, e encontros dos delegados para o sínodo de 1977[25].

 

1.5 Catechesi Tradendae (1977)

 

         O sínodo trouxe um grande entusiasmo pela catequese, em especial com a Exortação apostólica Catechesi Tradendae de João Paulo II.  

Este documento ofereceu algumas definições sobre a catequese, especificando a sua finalidade:

 

“(...)uma educação da fé das crianças, dos jovens e dos adultos, a qual compreende especificamente um ensino da doutrina cristã, dado em geral de maneira sistemática, com o fim de os iniciar na plenitude da vida cristã”[26].

 

Esta definição apresenta alguns elementos tais como:

 

Ø     Elemento pedagógico da catequese, porque é educação; “ha uma pedagogia da fé, que nunca será demais o que se disser quanto ao que uma tal pedagogia pode contribuir para a catequese. É normal que se adaptem em benefício da educação para a fé as técnicas aperfeiçoadas e comprovadas da educação em geral”[27].

 

Ø     Elemento pastoral, porque é educação da fé; “a catequese conserva uma perspectiva pastoral. [...] este sentido amplo de catequese não será em contradição, mas antes compreende, ultrapassando-o, um sentido mais estrito da mesma, outrora comumente apresentado nas exposições didáticas, como simples ensino das fórmulas que exprimem a fé”[28].

 

Ø     Elemento permanente, enquanto se destina a crianças, jovens e adultos; “desde a primeira infância até o limiar da maturidade, a catequese torna-se pois uma escola permanente da fé e segue as grandes linhas da vida, à maneira de um farol que ilumina o caminho da criança, do adolescente e do jovem,[29][...] a comunidade cristã não poderia por em prática uma catequese permanente sem a participação direta e experimentada dos adultos, quer eles sejam destinatários, quer sejam promotores da atividade catequética”[30].

 

Ø     Elemento doutrinal-vital, (catequese situacional-libertadora do homem) sendo dado de maneira orgânica e sistemática, com a finalidade de iniciar na plenitude da vida cristã; “na necessidade de um ensino cristão orgânico e sistemático, não deixa de relevar a necessidade de se aproveitarem as múltiplas ocasiões de catequese que se deparam em relação com a vida pessoal, familiar e social ou eclesial”[31].

 

Ø     A dimensão comunitária, “a comunidade eclesial, em todos os seus níveis, é duplamente responsável em relação a catequese [...], deve prover a formação dos próprios membros, acolhê-los num meio ambiente em que possam viver o mais plenamente possível aquilo que aprenderam”[32].

 

Ø     Aspectos missionários e ecumênicos, a catequese está em “abertura para o dinamismo missionário e não pode ficar alheia à dimensão ecumênica, uma vez que todos os fiéis, cada um segundo as suas capacidades próprias e a sua situação na Igreja, são chamados a participar no movimento da unidade”[33].

 

1.6 Catequese Renovada (1983)

 

Com a realização do Vaticano II a Igreja Brasileira abriu-se para a renovação, animada com o plano de pastoral, diretrizes e documentos. Influenciada pela Semana Internacional em Medellín (1968), na procura de organizar uma catequese renovada à luz da eclesiologia e cristologia com perspectiva social, que fez com que nascesse a catequese situacional ou libertadora, levando avante a sua renovação com a publicação do documento  da“Catequese Renovada”[34].

Foi realmente um grande trabalho, tendo a colaboração desde os mais simples catequistas até dos grandes teólogos e catequetas. No seu método de interação fé e vida, e fiel a Jesus Cristo, a Igreja e ao homem, em uma evangélica opção pelos pobres, dentro do contesto Latino Americano em uma realidade Brasileira, provocando assim uma adaptação metodológica com seus respectivos conteúdos. Um dos grandes divulgadores da catequese renovada foi Frei Bernardo Cansi, o apóstolo da catequese brasileira, morto em 1996[35].

O documento da  Catequese Renovada celebrou a sua 32ª edição, em agosto de 2003, os seus 20 anos de publicação. Segundo o Novo Diretório provisório de Catequese, afirma que é um dos documentos da CNBB mais completo, quando fala sobre a educação da fé, o seu eixo central é o princípio interação fé e vida, dando também uma grande importância à caminhada da comunidade de fé e vida, como ambiente para a educação da fé, e a bíblia como texto por excelência da catequese[36].

Aprofundaram-se e atualizaram-se  os temas da inculturação, catequese urbana, afetividade e catequese com adultos[37]; como também  a integração nas outras formas de pastoral, com uma espiritualidade inserida nas suas dimensões cristológica, eclesiológica, litúrgica, missionária, antropológica, histórica, política e outras[38].

 

 

a) Encontro Nacional de Catequese (1985)

 

Com a realização deste Encontro Nacional, tendo como objetivo avaliar a caminhada da catequese renovada e projetar  para 1986 o Ano Catequético, foram feitas reflexões, estudos, debates, encontros por todo o Brasil sobre a catequese renovada, culminando o ano com a atuação da Primeira Semana Brasileira de Catequese.

 

b) Primeira Semana Brasileira de Catequese ( 1987)

 

         Este evento tornou-se um momento importantíssimo para o Movimento Catequético Brasileiro, devido à intensa preparação dos catequistas por todo o Brasil, como também a grande elaboração de materiais. O tema era: Fé e vida em Comunidade, onde foi feito avaliação e relançamento do documento catequético nacional.

 

c) Estudos realizados, documentos editados depois da 1ª SBC

 

Ø      4º Encontro Nacional de Catequese (1989), tema – Formação de Catequistas, sendo realizado uma mobilização nacional.

 

Ø     5º Encontro Nacional de Catequese (1991), tema – Inculturação, religiosidade popular e cultura regional, foi apoiado à catequese inculturada, em especial a catequese de adultos, em uma nova leitura da realidade e priorizando a formação de catequistas.

 

Ø     6º Encontro Nacional de Catequese (1994), tema – Catequese por um mundo em mudança, a modernidade e o mundo urbano. Refletiu-se sobre a necessidade de uma formação bíblica e espiritual.

 

Ø     7º Encontro Nacional de Catequese (1997), tema – Catequese rumo ao novo milênio – o hoje de Deus no nosso chão.

 

Ø     Não foi indiferente no movimento catequético brasileiro  à acolhida do Catecismo da Igreja católica (1993) e o novo Diretório Geral de Catequese (1997).

 

1.7 Segunda Semana Brasileira de Catequese (2001)

 

         Esta Segunda Semana é fruto de um caminho feito durante 15 anos depois da 1ª Semana Brasileira de Catequese (1986), onde se refletiu sobre Fé e vida em comunidade – renovação da Igreja e transformação da sociedade e aprofundou-se o documento Catequese Renovada com suas preocupações[39].

         A Segunda Semana Brasileira de Catequese foi um evento grandíssimo não diferente da primeira. Houve uma preparação de um ano com uma conscientização nacional de agosto de 2000 até outubro 2001, quando foi realizada a 2a SBC, cujo tema era: Com adultos catequese adulta e o lema: Crescer rumo à maturidade de Cristo.  Participaram deste evento histórico os representantes dos regionais da CNBB, das dioceses, escolas de catequese e instituições bíblicas e convidadas de outros países. Eram 459 participantes sendo eles: 167 leigas, 112 religiosas, 106 padres, 46 leigos, 16 bispos, 6 irmãos religiosos, 2 seminaristas e 1 diácono[40].

 

Objetivo da 2ª SBC

 

     Sentindo os novos desafios da cultura pós-moderna, a dimensão bíblica catequética no desejo de responder aos apelos da sociedade, organizou este evento levando em conta os seguintes objetivos:

 

Buscar caminhos para uma catequese e formação permanente de adultos que os  ajudem a viver o compromisso com Jesus e a sua proposta, numa Igreja de comunhão e participação. Isto implica em: conhecer a situação sociocultural e religiosa de hoje; conhecer e analisar a realidade atual da catequese com adultos, na Igreja do Brasil refletir uma espiritualidade e uma leitura bíblica que falem ao adulto de hoje; avaliar e celebrar a caminhada feita a partir da Catequese Renovada; envolver no processo, além dos catequistas das comunidades, agentes que desenvolvem atividades catequéticas e formação com adultos”[41].

 

    O Concílio Vaticano II já havia proposto a necessidade de uma catequese para adultos, tanto que o DCG (1971) faria o apelo ao seu retorno.

     Durante este período de 15 anos entre a 1ª e a 2ª Semana Brasileira de Catequese, foram realizados muitos encontros nacionais, como também editados tantos livros da coleção estudos da CNBB, de temas que refletiam a nível nacional as preocupações da Igreja.

 

 

 Para a preparação da 2ª SBC foram editados:

 

Ø     Documento de estudos da CNBB, 80, Com adultos catequese adulta, dando atenção à realidade do adulto como interlocutor e destinatário da educação da fé, e Jesus Cristo sendo o ponto referencial para atingir a expectativas desta maturidade humana e cristã.

 

Ø     Documento de Estudos da CNBB, 82, O itinerário da fé – na iniciação cristã de adultos. É um volume onde apresenta as principais conclusões e propostas do 3º seminário sobre o itinerário da fé do adulto.

 

O tema Com adultos, catequese adulta, exprime o desejo de renovar a metodologia da nossa catequese inculturando-se na realidade do adulto, conhecendo os desejos, projetos e interrogações atuais do mundo e da Igreja; para educá-los de maneira progressiva na fé[42].

A catequese com adultos é a “principal forma de catequese”[43], que deverá ser assumida com prioridade [44].

Constata-se que os nossos adultos necessitam de serem formados nos critérios da fé, para que possam enfrentar os desafios da educação na família e na sociedade, e corresponderem com dignidade a sua vocação de filhos de Deus.

    A catequese brasileira está em sintonia com os projetos globais da Igreja do Brasil, o projeto Rumo ao novo milênio, com as propostas de João Paulo II na sua carta apostólica Novo milênio ineunte, que foram levados em considerações, respirar e sentir com e como Igreja.

 

Conteúdo da 2ª SBC

 

Ø     Na primeira parte  foi tratado sobre o histórico da 2ª SBC,

Ø     Na segunda parte a abertura da 2ª SBC,

Ø     Na terceira  parte os conteúdos foram:

a. Bloco I :  Catequese com adultos no contexto atual,

b. Bloco II:  Catequese com adultos num mundo pluralista,

c. Bloco III: Catequese com adultos: Contexto eclesial,

a.      No bloco IV: Catequese com adultos: situações e temas específicos,

b.     No bloco V: Catequese com adultos: rumo à missão   

 

1.8 Conclusão

 

         Este primeiro capítulo tentou demonstrar de maneira sintética o percurso histórico do Movimento Catequético Brasileiro depois do Concílio Vaticano II, e a preocupação da Igreja com o processo  da educação da fé, passando por várias evoluções, até chegar a atual realidade, sempre procurando adaptar-se ao homem com suas interrogações profundas existenciais.

         Uma Igreja preocupada com o homem chamado a realização plena, e que necessita de membros que sejam testemunhas eficazes do evangelho, para responder as necessidades de cada indivíduo.

         Conhecer a história da catequese, deverá ajudar o catequista na sua consciência eclesial, pois a educação da fé se realiza dentro de uma realidade histórica, cultural, religiosa, social, e não isoladamente, mas em comunhão com a Igreja universal e por sua vez com a local.

         Fará crescer por meio do conhecimento a responsabilidade pelo Reino de Deus, que terá como objetivo, suscitar um compromisso maior na formação cristã dos adultos, dentro de uma Igreja particular, incentivando a comunhão e participação, para que seja uma realidade contínua e não apenas uma utopia eclesial.


 

 

[1] Cf M. PASSOS,  “Uma história no plural - 500 anos do movimento catequético brasileiro”, Vozes, Petrópolis 1999, 65.

[2] CD,13.

[3] Cf CD,14.

[4] Cf GS, 12.

[5]Cf LG, 9-13.

[6] Cf DV, 2, 5, 21, 25-26.

[7] Cf LG, 10.

[8] Cf DV, 8.

[9] Informações do Centro de Catequese Diocesano de Jundiaí – SP, 2003.

[10] Ibidem.

[11] Cf M. PASSOS, “Uma história no plural”, op. cit., 75.

[12] Cf CNBB, “Plano de Pastoral de Conjunto”, Paulinas, São Paulo 1966-70, 65-66.

[13] Ibidem.

[14] Ibidem, 71.

[15] Ibidem.

[16] Ibidem.

[17] S.RIVA, “Una tipologia del catechista per la catechesi del nostro tempo”, Elle Dici, Leumann (Torino) 1977, 33.

[18] M.PASSOS, “Uma história no plural”, op. cit, 76.

[19] Ibidem, 79.

[20] Ibidem.

[21] Cf CNBB, “Diretrizes Gerais da CNBB”, Paulinas, São Paulo 1975-78.

[22] Ibidem, 86.

[23] Ibidem.

[24] Ibidem, 96.

[25] Ibidem.

[26] CT, 18.

[27] CT, 58.

[28] CT, 25.

[29] CT, 39.

[30] CT, 43.

[31] CT, 21.

[32] CT, 24.

[33] CT, 24, 32.

[34] DNC, 116.

[35] Cf  M. PASSOS, “Uma história no plural”, op. cit., 117.

[36] Ibidem.

[37] Cf CR, 118.

[38] Cf  I.BROSHUIS, “A caminhada da catequese no Brasil”, < Convergência> (s.n.) julho/agosto 2001, 369.

[39] Cf CNBB, “Um caminho que continua”, Dimensão bíblico – catequético, Brasília 2003, 8.

[40] 2a SBC, 9.

[41] Ibidem, 10.

[42] Cf CR, 130.

[43] DCG, 20; cf CT, 43; DGC, 172ss.

[44] Cf CR, 120, 130.