II. CATEQUISTA CHAMADO A SER PARA TESTEMUNHAR

 

A formação do catequista deve ser integral em um processo gradual, respeitando o seu estado de vida[1]. Não se forma apenas em uma dimensão, mas nos seus diversos aspectos: ontológico, psíquico e espiritual que influenciam fortemente na vida da pessoa.

            Existe em nossos dias uma oposição muito grande entre o ser e o ter. O ter nos reúne e o ser nos forma. Aprender a ser é ter a coragem de aceitar a si mesmo e não ter medo de despojar-se para revelar ao outro o próprio ser, escondendo-se atrás das coisas materiais como: posses títulos etc..; mas demonstrando a autenticidade do que se é, tendo a coragem de assumir responsabilidades dos próprios atos, do que se pensa, critica e decide.

 Permanecer na verdade do ser provoca um certo tormento, é por isto que as pessoas se escondem fazendo um desenfreado consumismo, que impede o crescimento do ser, em revelar a sua verdadeira grandeza.

         A resposta a esta aprendizagem em ser mais, esta na capacidade em ter menos, ou melhor não ser apegado aos bens, mas viver na liberdade de filhos. O exemplo do jovem rico tinha tudo mas havia dificuldades para despojar-se dos bens para ser mais e seguir o mestre (cf Lc 18, 22).

         Portanto somos chamados a viver em liberdade diante dos bens, dos seres, para viver na verdade e profundidade do próprio ser[2].

Não tenho a pretensão de dar todas as respostas para a formação. Através de um itinerário será tratado sobre a importância da vocação ao ministério da catequese, onde o catequista dará sua resposta positiva a Deus, sustentado por uma espiritualidade missionária, que o impulsionará a testemunhar sua fé, tornado-o capaz de gerar novos filhos de Deus para a comunidade eclesial.

 Se preocupará de reeducar sua consciência para não ser manipulada psicologicamente pelo ambiente familiar negativo, cultural, econômico e social, solidificado na capacidade do relacionamento humano, crescendo no discernimento, na verdade, liberdade e capacidade de decisão no seguimento de Cristo.

 

2.1 Catequista por Vocação

 

         A vocação ao ministério catequético nasce, cresce, amadurece dentro de uma comunidade eclesial[3], onde Deus chama os seus filhos para exercer o múnus profético, sacerdotal, e real a serviço da difusão do Reino de Deus.

         É nesta alegria de ser, construído pela descoberta de si mesmo, que o catequista se coloca no dom de si aos outros, e o seu crescimento se dará, porque é um ser em relação.      

Ser catequista não é uma escolha pessoal, mas é uma resposta a um convite do Senhor, pois o chamado que Ele faz para o serviço da sua Palavra é um dom que se recebe[4], para ser sinal dentro da comunidade eclesial do seu mistério salvação, sustentado pelo mandato recebido, em comunhão com os seus pastores em colaboração com os outros ministérios para o crescimento comum[5].

         O ministério do catequista ocupa uma importante missão dentro da Igreja particular no processo da evangelização[6], onde se diferencia dos outros ministérios, pois o catequista é um educador do homem na fé, segundo a pedagogia do mestre Jesus, no respeito do tempo, idade, capacidade do catequizando. No exercício da sua missão realiza em nome da Igreja, em virtude da missão que ela lhe conferiu[7].

O testemunho dos membros da comunidade é importantíssimo para o florescimento das vocações ministeriais, com o zelo apostólico e o amor desinteressado verso o próximo com um desejo profundo e sincero que Jesus seja conhecido, amado e adorado, desenvolvendo dentro desta comunidade o espírito de Igreja Missionária[8], para ser capaz de andar além das fronteiras paroquiais e diocesana[9]. Anunciam a palavra e denunciam a injustiça, estão no mundo atentos às mudanças históricas e culturais da sociedade[10].

         Temos os exemplos dos profetas onde Deus chama, perdoa, purifica, e depois envia, dando ao homem a liberdade de responder a este convite para ser seu colaborador na grande missão profética, entre eles está Isaías onde o Senhor pergunta: “Quem hei de enviar?quem  irá por nós?ao que respondi: Eis me aqui, envia-me a mim” (Is 6, 7-8).

         Catequista por vocação é a partir da experiência do amor misericordioso de Deus diante da pequeis do homem, pois é impossível dizer não a este fogo que queima dentro de nós, o Espírito Santo, “(...)porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,5).

         Ainda hoje Jesus continua chamando colaboradores para esta grande missão de anunciar o Reino de Deus, nesta sociedade pluralista e secularizada[11], necessita de pessoas apaixonadas pelo seu reino e pela sua pessoa, tornando-se realmente discípulas do mestre, educador e testemunha[12], atentas a sua Palavra, Tradição e Magistério da Igreja, as ciências humanas e pedagógicas, para serem protagonistas destes ensinamentos, capazes de entrar em diálogo com o homem pós-moderno[13].

 

          “Qualquer atividade pastoral que não conte para a sua realização, com pessoas realmente formadas e preparadas, coloca em risco a sua qualidade”[14].

 

            Para a realização plena do ministério catequético deverá ser levado em consideração, dando prioridade à “formação catequética dos presbíteros, tanto nos planos de estudos da formação seminarística quanto no período da formação permanente”[15].

         Os presbíteros juntos com seu bispo são educadores da fé em relação ao sacramento da ordem[16]. A maturidade cristã de uma comunidade está nas suas mãos, e o seu sacerdócio ministerial é a serviço do sacerdócio comum, que com sua dedicação estimulará vocações para o ministério catequético,[17]dedicando a esta tarefa a máxima solicitude”[18].

         O termômetro de uma comunidade paroquial está na dedicação máxima ao serviço catequético, no zelo pela formação de qualidade dos seus catequistas, pois na realidade cultural, histórica em que vivemos necessitamos de cristãos qualificados na transmissão da mensagem cristã, na formação de novos seguidores de Jesus, que sejam capazes de darem a vida pelo evangelho.

          O problema maior é quando estes que se dizem catequistas, negam a formação permanente, não se inserem na vida da comunidade, agem de maneira individual e não em comunhão com a Igreja que conferiu o mandato de catequista. A conseqüência será a formação de cristãos desvinculados da vida da comunidade, para um cristianismo sem compromissos, e individualistas, portanto, “a formação catequética é prioridade absoluta, e qualquer atividade pastoral que não conte para a sua realização,  com pessoas realmente formadas e preparadas, coloca em risco a sua qualidade”[19].

Futuramente com a instituição do ministério da catequese uma boa parte do problema da catequese será resolvido, pois o catequista compartilhará com os presbíteros a responsabilidade do ministério apostólico a serviço da Igreja.[20] Os “ministérios instituídos, quando o carisma, embora não é ligado a uma consagração sacramental, é orientado a um serviço preciso, permanentemente exigido pela comunidade, com verdadeira responsabilidade, e é conferido pela Igreja através de um rito litúrgico chamado instituição[21].

         Sabemos que para sua realização supõem uma preparação e um discernimento vocacional para esta missão na Igreja de educador da fé, que nos nossos dias ultrapassam a boa vontade, mas necessita-se também de qualidade, para dar consciência e competência para o exercício desta grande e delicada missão, de formador da consciência cristã.

 

2.2 Necessidade de Formação

 

Nesta nossa sociedade pluralista pós-moderna, onde o homem fez tornar-se deus a mass-media que comanda a vida do ser humano com suas propagandas enganosas, estando aberto a tudo e ao mesmo tempo indiferente a todos, em um contínuo consumismo que é dominado por uma ideologia descartável, tendo perdido as razões profundas do seu ser como homem transcendente feito à imagem do seu criador, por isso entrou em crise a sua identidade e porque não dizer a consciência de filho de Deus. Vive em contínua busca de senso para a sua vida, sendo escravo de si mesmo, trazendo consigo o desejo de uma total libertação do seu ser[22].

         O ser humano tem uma aspiração que nasce no mais profundo de si mesmo, de encontrar o Senhor da sua existência. Não conhecendo as verdades da revelação cristã é impossibilitado de dizer sim ao plano salvação de Deus Pai Misericordioso manifestado no seu Filho Jesus Cristo, sob a ação do Espírito Santo, tornando-se disponível para aderir a todo tipo de oferta religiosa que aparece.

Hoje mais do que nunca o catequista deve ser ciente da sua vocação e missão na Igreja, pois como formador de consciência do homem pós-moderno, a formação “é uma necessidade absoluta[23], para continuar  respondendo a chamada de Deus em um contexto cultural, humano, social, religioso, que está em contínuas mudanças, onde estão inseridos e são reconhecidos como educadores da fé que buscam a maturidade de Cristo, modelo de homem perfeito (cf Ef 4, 13).

O catequista deverá ser preparado a ter consciência da realidade que está em torno, com suas manipulações, tendo um espírito crítico diante das situações com capacidade de análise e decisão, para não ser reduzido pela sociedade de consumo como objeto em suas ações, impedindo-lhe de desenvolver o discernimento e liberdade em sua ação responsável[24].

         Será preparado a ser educador na fé, onde guiará dentro de uma comunidade eclesial através de um itinerário, pessoas que sentem nascer dentro de si um desejo ardente de amadurecer a sua vida espiritual cristã, pois trazem nos seus corações a sede do transcendente; pois as experiências realizadas fomentadas pelos meios de comunicação com suas ofertas enganosas provocaram um vazio imenso, dando asas a cultura do poder, do prazer e do ter,  tornando-se insatisfeitos e vazios. Retornando as famosas perguntas: Quem sou eu? Da onde vim? Para onde vou?[25]

 O homem sente o desejo de retornar aos valores da gratuidade, do amor, do espiritual, em uma grande crise existencial, que às vezes torna-se desesperadora, aceitando qualquer tipo de oferta religiosa que produza emoções, sentimentos, experiências espirituais e místicas[26]. É justamente nestas ocasiões que se nota à adesão às seitas de origem oriental, pentecostais, evangélicas, também existe uma grande busca do auto conhecimento através da psicologia.

 Todo este comportamento é fruto da ansiedade, de uma insatisfação com a própria vida,  no desejo de fazer novas experiências, na tentativa de encontrar respostas a este vazio que traz dentro de si.

         Concluísse que a ciência e a técnica não trouxeram felicidade e realizações para o ser humano, ao contrário  tornou-lhe cego, vazio e escravo de si mesmo, não sendo capaz de usar as suas capacidades de raciocínio, liberdade e decisão, mas deixando-se conduzir pelas propagandas enganosas dos meios de comunicação e pela mentalidade secularizada.

         Nesta análise da atual realidade do homem, surge a necessidade de oferecer meios para o conhecimento da verdade sobre si mesmo para a sua libertação, pois ele está ameaçado constantemente com os absolutos poderes da sociedade[27].

 

2.2.1 Formação Humana

 

         Formar quer dizer modelar, dar formas. Educar o ser humano quer dizer, resgatar a sua imagem, que era semelhante ao seu Criador, que foi  perdido com o pecado (cf Gen 1, 27). A sua semelhança  com Deus está na sua inteligência na qual participa da luz da mente do seu criador, que o fez conhecedor do bem e do mal.

O homem possuindo uma interioridade, que transcende o universo, é o único que pode entrar em relação com o seu criador, porque possui uma alma espiritual e imortal. Todas as vezes que entra em  relações com Deus conseqüentemente dará glórias a Ele, que o faz superior a todos os outros seres criados[28].

Deus ao criar o homem deu-lhe a capacidade de reflexão sobre si mesmo, fazendo-lhe entender a sua natureza intelectual e a sua subsistência; portanto, enquanto pessoa na sua individualidade é única e absoluta, sendo um ser em relação que nunca poderá fechar-se em si mesmo, pois o seu Criador é relação por excelência, que o transcende, a  um Eu que se torna um Tu.

A missão do educador é dar consciência ao homem da sua grandeza e dignidade, e no exercício do seu ministério o levará através de um processo educativo, a fazer a experiência do amor de Deus revelado em Jesus Cristo sob a ação Espírito Santo.

 

Formação Humana quer dizer:

 

Ø     Formar sem condicionamentos psicológicos;

Ø     Com uma profunda espiritualidade;

Ø     Para seguir Jesus Cristo;

Ø     Dentro de uma comunidade

2.2.1.1  Formar sem Condicionamentos Psicológicos

        

         No processo educativo é necessário dar atenção aos fatores psico-sociológicos que influenciam a vida das pessoas, que as condicionam e manipulam, impedindo-as de caminhar rumo à maturidade de Cristo, com liberdade e responsabilidade tais como:

 

a) O ambiente familiar,

b) Cultural, religioso, social, econômico.

 

a) O Ambiente Familiar

 

Segundo a psicologia, a família é o ambiente básico para o crescimento sadio de uma pessoa, onde no desenvolvimento de cada etapa de crescimento, (infância, adolescência e juventude) a convivência familiar, em especial o contato direto com os pais, marca profundamente o futuro de alguém[29].

 Poderá ser um adulto equilibrado se houve em cada etapa da sua vida, os afetos necessários para solidificar a sua auto estima, confiança em si mesmo, o amor pela vida, o sentimento de pertença a um grupo e depois o enxerimento na sociedade.

É na família que se aprende a ser solidário, humano e fraterno, como também a ser egoísta, desumano e violento. Tudo depende da dimensão que a família assume frente a realidade existente. Ela se define  como formadora dos seus membros, que poderá torna-se agente de transformação na medida em que conseguir estabelecer e criar novas relações, igualitárias e dialogais, como também poderá estabelecer relações de dominação e submissão que refletirá na sociedade.

O desenvolvimento de uma pessoa no período evolutivo se da a partir do momento que se aprende a conviver com as dificuldades e imprevistos [30], sendo fruto da educação recebida durante as fases anteriores, ao contrário entrará em uma profunda crise, e que às vezes se torna patológica; neste momento a pessoa precisa de ajuda para conhecer-se melhor e descobrir as raízes da sua história, para solucionar os seus problemas ou aprender a conviver com eles[31]

 

 A Arte de Relacionar-se

 

         A realização pessoal está na capacidade de relacionar-se, ao contrário será fonte de conflitos e problemas. O modelo de relacionamento humano se identifica com a união física íntima entre mãe e filho, durante os nove meses de gestação, como também depois do nascimento, sendo fonte de vida esta relação, que refletirá mais tarde na vida do indivíduo, no seu contato com o mundo, com as pessoas e com Deus.

         É importantíssimo os primeiros meses de vida, pois a partir daí que inicia  aparecer o sentimento de confiança, que produzirá no futuro uma autoconfiança na vida, no mundo e no ser humano, favorecendo um verdadeiro encontro de amizade para o amor, que o levará a experiência do Deus-ágape.

         Ninguém vive sozinho, portanto o relacionamento humano é uma arte e uma necessidade afetiva que está dentro de nós, onde no grupo, na comunidade procuramos conservar e manter a colaboração que produza confiança entre os membros. A família é a primeira escola de relacionamento humano, com o exemplo dos pais na capacidade de dialogar, enfrentar os problemas, os princípios morais com suas convicções religiosas, depois a escola, a vida social e religiosa, política etc... O não saber relacionar-se quase sempre são conseqüências negativas vividas[32].

 

b) Ambiente Cultural, Social e Econômico

 

A base é a família, mas está influenciada por uma cultura dominante, onde a baby sitter é a TV que manipula as consciências, oferecendo os seus programas inadequados, sem ser formado a uma capacidade crítica da situação. A criança e até mesmo o adulto são educados por ela, sendo explorados  na sua ingenuidade.

Os valores da família se perdeu, sendo comum a troca de cópias na maior normalidade, isso para não falar das manifestações gays, fazendo grande sensacionalismo, no desejo de serem reconhecidos pela sociedade a sua união[33]. Existem pessoas sensíveis ao bem comum, mas é a minoria em comparação com este gigante Golias da comunicação, pois os valores cristãos segundo esta ideologia caíram de moda[34].

Os países em fase de desenvolvimento, estão sendo manipulados pelas grandes potências com suas ofertas enganosas onde está afetando profundamente o homem trabalhador, o pai e mãe de família que lutam para ter o pão de cada dia, e pelo menos conseguir ter um teto digno para educar os seus filhos, se estes por infelicidade já não estão no mundo das drogas[35].

Como se pode falar de educar a consciência sem manipulações psicológicas nesta situação? Somos capazes de entender as condições de tantos adultos que encontramos, muitos frustrados, porque buscam uma resposta aos seus problemas afetivos, econômicos, social e religioso no desejo de dar sentido à sua existência e são enganados?!

Somos frutos de uma cultura, proveniente de uma base educativa carente, influenciado pela sociedade de consumo, sendo educada pela mass media, em um mundo com mentalidade descartável que favorece a possibilidade para fazer tantas experiências religiosas, igual a um mercado, que se muda de religião de acordo com a melhor proposta oferta. Por não ter tido uma base sólida na sua educação (família), é contaminado pelo ambiente social em que vive, o adulto sofre as conseqüências, nota-se esta realidade através do seu comportamento.

É um desafio para a Igreja esta sociedade neoliberal, que formou uma cultura com esta mentalidade, perdendo o valor básico do direito do ser humano, sendo sua vítima a família, esta pequena célula da sociedade.

O importante desta ideologia é a produção, “a economia vai bem, mas o povo vai mal”[36], não importa que custe mesmo a vida de uma nação inteira, (para não dizer nações). Humanamente parece impossível vencer todos estes obstáculos, mas ainda temos a esperança cristã, sendo a motivação do agir do catequista, homem de fé robusta e caridade ardente e testemunha do amor de Deus.

A mentalidade da solidariedade deve desaparecer para dar lugar ao deus neoliberalismo. Se sente a necessidade de formar a consciência através da cultura da solidariedade, para enfrentar todos estes problemas. Nota-se ao mesmo tempo que o adulto busca a sua própria identidade e deseja responder a pergunta: Quem sou eu? para afirmar o seu auto conceito. Ele é o resultado da mentalidade cultural da sociedade atual.

        

2.2.2 Formação Espiritual

 

         A espiritualidade tem sua raiz no Espírito, sendo uma força que envolve todo o ser da pessoa, corpo e alma. O Espírito anima, impulsiona, provoca unidade, energia e ardor. É o Espírito que faz o homem através do batismo tornar-se filho de Deus, e deixando-se guiar por Ele, torna-o capaz de entrar em diálogo, recebendo o convite a profissão de fé. Respondendo ao chamado, o coração se encherá do seu amor, provocando um estile de vida[37].  A espiritualidade forma na pessoa a mística que é o sabor da ação.

A palavra Mística tem sua origem na palavra mistério. A fé é uma experiência do mistério, sendo resposta aos apelos de Deus por meio da contemplação, para descobrir a sua vontade  na vida pessoal.

A vida espiritual dará sentido aos atos realizados na prática da fé do cotidiano, não sendo indiferente aos rostos marginalizados pela sociedade, ajudando a superar, o egoísmo que impede o dom total. A mística é uma força para enfrentar o pecado com suas conseqüências, para não se corromper com a mentalidade mundana, ao contrário receberá a condenação que receberam os fariseus de Jesus, considerados hipócritas.[38]

         A espiritualidade ajuda o catequista a ter maior intimidade com Deus Uno e Trino no seguimento e imitação de Jesus, que será a força educadora da sua missão ministerial, estimulando a viver com coerência seu projeto de vida cristã. Sendo educado na vida do Espírito produzirá frutos para a verdade, liberdade na capacidade de decisão. Um homem espiritual foi educado por Deus e não é condicionado pelo ambiente, vive na liberdade dos filhos de Deus.

         Espiritualidade não é espiritualismo onde o cristão pensa somente em si mesmo (subjetivismo) rejeitando a vida eclesial, comunitária e sacramental, sem algum compromisso, porque este é o comportamento da maioria dos que se dizem cristãos, tendo uma espiritualidade sem compromissos.  Portanto espiritualidade não é  personalidade nem mesmo pensamento ou inteligência, mas expressões do Espírito[39].

 

 

a) Formar ao discernimento

 

“Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos, renovando a vossa mente, a fim de poderdes discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, agradável e perfeito” (Rom 12, 2).

 

Não existe discernimento fora da fé, e não se têm fé provada sem discernimento, pois se abrir à vontade de Deus em cada situação supõem uma grande abertura à ação do Espírito, no desejo de descobrir a verdade que está em torno para tomar uma decisão; por isso é necessário renovar a maneira de pensar para não usar os critérios do mundo[40],  pois “quem pratica a verdade vem para a luz, para que se manifeste que as suas obras são feitas em Deus” (Jo 3, 21).

         A consciência realiza o discernimento para identificar o que se deve fazer aqui e agora. É prudente, pois está a serviço da caridade, é atenta a realizar a vontade do Senhor, utilizando os meios necessários para alcançar o seu fim.

         O discernimento se realiza através de um amadurecimento pessoal na prática da justiça pela fé em Jesus, sendo fruto de uma educação, que se realiza durante toda a vida, iniciando nos primeiros anos de vida para aos poucos ir formando a personalidade da pessoa para o discernimento, que deverá ser, “uma educação prudente ensina a virtude, preserva ou cura do medo, do egoísmo e do orgulho, dos sentimentos de culpabilidade e dos movimentos de complacência, nascidos da fraqueza e das faltas humanas”[41].

Com o amadurecimento da consciência ela se torna mais crítica e habilitada para realizar o juízo moral de qualquer situação[42], sendo capaz de analisar a bondade e a malícia de uma ação que está para acontecer, utilizando  os seus dons naturais, como também os dons do Espírito Santo para a realização do discernimento.

           Devido aos condicionamentos e manipulações da sociedade, mesmo assim somos chamados a não perder a esperança, mas deixar-se guiar pelo Espírito, para discernir o bem do mal, o que será melhor e justo, com caridade, para um bem pessoal, comunitário ou social, não buscando interesses próprios, mas na liberdade e gratuidade do amor cristão.

Deixamos  “de ser crianças, joguetes das ondas, agitados por todo o vento de doutrinas, presos pela artimanha dos homens e das suas astúcias que nos conduz ao erro. Mas, seguindo  a verdade em amor, cresceremos em tudo em direção àquele que é a Cabeça, Cristo” (Ef 4, 14-15).

Para discernir é importantíssimo escutar a Palavra de Deus, ler e meditá-la, traduzir os valores morais, tendo uma grande abertura para o diálogo e a correção fraterna, valorizando o acompanhamento espiritual pessoal. É necessária uma consciência sem opressão e agitação, que não se contenta com o superficial, mas aprofunda a situação, ao contrário poderá provocar danos ao discernimento.

  Saber olhar a situação, refletir, e deixar-se conciliar é importantíssimo, pois  a precipitação não é boa conselheira[43]. Por isso peço “que vosso amor cresça cada vez mais, em conhecimento e em sensibilidade, a fim de poderdes discernir o que mais convém, para que sejais puros e irrevogáveis no dia de Cristo, na maturidade do fruto da justiça que nos vem por Jesus Cristo” (Fil 1, 9-11).

 

 Formar na Verdade

 

          Formar na verdade é importante, pois o homem é homem, porque pensa, esta sua capacidade de pensar é uma qualidade que o identifica como ser humano. O ser humano não é apenas dotado de razão, mas através dela direciona todas as suas potencialidades e torna-se protagonista da realidade física e espiritual.

Ele tem uma liberdade com seus valores morais, no contato com o mundo, com a história e seu destino último.  Formando-o a interrogar-se sobre as razões do seu conhecimento o levará a penetrar no núcleo mais profundo do seu ser que o ajudará a ser mais criativo no mundo e na prática dos valores coerentes com sua consciência[44].

A pessoa tomará consciência de si e de tudo que a torna escrava, e iniciará a reconhecer sua dignidade que a fez imagem e semelhança do seu Deus, na qual assumirá responsabilidades dos seus atos, em uma contínua busca da verdade[45].

Sendo o ser humano uma pessoa ativa, procurará aperfeiçoar o que existe, com sua participação na transformação que favoreça ao bem comum e que torne as pessoas mais humanas. Do contrário ele não estaria usando o seu pensamento como qualidade positiva que o enobrece.

É pelo pensamento que o ser humano se liberta das suas limitações e inicia a procurar o transcendente. A sua procura passa através das relações humanas e da criatividade de transformar o mundo.

          Vivendo em um mundo de conflitos e manipulações, onde se esconde sempre parte da verdade ou se omite diante de situações injustas, devido às muitas ofertas enganosas[46], por isso se torna difícil ouvir a voz da consciência, pois são tantas as vozes dentro de si como: do prazer, do poder, e do ter[47]. Tudo é permitido, incentivado pelos meios de comunicação, que se torna uma cultura,[48] levando a um grande desequilibro interior, tornando-se disponível e vulnerável a qualquer tipo de oferta, até mesmo religiosa[49].

“Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (Jo 8, 32), pois o conhecimento da verdade é para a liberdade da pessoa, que pressupõem a capacidade de discernir cada ação, porque quase sempre a pessoa é envolvida socialmente, então o discernimento ajudará a evitar o cego arbítrio[50].

         O homem sente-se ameaçado por tudo aquilo que produz no seu trabalho, no uso de sua inteligência, com as tendências da própria vontade, fazendo com que o fruto da sua produção seja devolvido a ele fazendo-lhe mal, como é o caso das novas descobertas da ciência, da técnica, a destruição da natureza e assim por diante[51]. Ele que recebeu a missão de ser o rei da criação está se tornando o seu destruidor (cf Gen  1-2).

A responsabilidade do catequista é muito grande, pois deverá conhecer-se a si mesmo, com todas as suas verdades, para ser formador do homem do nosso tempo,  que está em crise existencial, não esquecendo-se que ele é o caminho da Igreja, pois embora tenha inclinações ao pecado traz dentro de si uma aspiração contínua a verdade, ao bem, à beleza, à justiça, ao amor ao qual será revelado a única verdade que é Jesus Cristo, salvador do homem em todas as suas dimensões, seja ontológica, psíquica e espiritual[52].

 

Formar a Liberdade

        

Formar a liberdade não quer dizer fazer tudo o que se deseja e pensa, “que a liberdade não sirva de pretexto para a carne, mas, pela caridade, colocai-vos a serviço uns dos outros. Conduzi-vos pelo Espírito e não satisfareis os desejos da carne. Pois a carne tem aspirações contrárias ao espírito e o espírito contrárias a carne. O fruto do Espírito é amor, alegria, paz, longanimidade, bondade, fidelidade, mansidão, autodomínio. Contra estas coisas não existe lei” Gal 5, 13.16-17.22-24).

 A liberdade caracteriza o ser humano como um ser diferente dos outros seres. Somente o homem consegue exercê-la quando toma consciência da sua dimensão humana, e quando inicia o seu processo de educação a responsabilidade em relação ao outro, medindo as conseqüências de qualquer decisão.

É  necessário educar-se a liberdade, porque tantas vezes dela depende não só o futuro pessoal, mas também de uma comunidade, de um país, pois à  ação têm resultados sociais e tantas vezes usada mal, traz efeitos gravíssimos, e quem sofre na maioria das vezes pela irresponsabilidade das decisões são sempre os desfavorecidos que não tem voz e vez, porque são os últimos e excluídos da sociedade, mas amados por Deus.

 A verdadeira liberdade no homem é sinal altíssimo da imagem divina, ela produz libertação para uma ação transformadora nas relações humanas, que eleva a dignidade do indivíduo, anuncia estruturas humanitárias e denuncia as desumanas, para resgatar a dignidade humana e proporcionar a sua realização integral.

Para recuperar este dom perdido com o pecado, é necessário iniciar um trabalho consigo mesmo, descobrindo no mais profundo do ser, tudo o que faz torna-se escravo, em especial as paixões que não dá possibilidades de escutar a voz do Espírito, “pois quando eu quero fazer o bem, é o mal que me apresenta[...], quem me libertará deste corpo de morte? Graças sejam dadas a Deus, por Jesus Cristo Senhor nosso.  A lei do Espírito da vida em Cristo Jesus te libertou da lei do pecado e da morte” (Rm 7, 21.24; 8, 2).

A liberdade em uma pessoa se reconhece pela responsabilidade dos seus atos, que aos poucos a faz progredir na virtude e no conhecimento para o discernimento do bem e do mal[53], não excluindo a prática ascética, que aumentará o domínio da vontade sobre os seus atos que tornará ser o seu agir moral[54]. Somente colocando ordem na vida com a graça de Deus, o homem poderá tornar-se livre.

         A  prática do bem a serviço do próximo, fortalece a liberdade, pois o seu poder está na razão e na vontade em agir e não agir, capacitando a pessoa a ultrapassar os seus limites individuais e naturais, ajudando-a a conviver com os outros em igualdade de condições, participando do bem comum.  Somente quando se é livre nas ações, através do livre arbítrio, usando-o com responsabilidade é que transforma em força para o “crescimento e amadurecimento na verdade e na bondade”[55],  alcançando a sua perfeição e ordenando-a verso Deus, onde se exercitará  no relacionamento com os outros, é que o indivíduo será  reconhecido como pessoa humana[56].

A liberdade convida o homem a buscar libertação, trabalhando sempre em construir a unidade moral e espiritual, evitando todo tipo de comportamentos duplos que a paixão traz.

         Na realização da liberdade a consciência é formada a buscar sempre a vontade de Deus na prática do bem que a educa para a liberdade com responsabilidade no exercício da justiça, que preserva do egoísmo, do orgulho e de todos os sentimentos de culpa que nascem da fragilidade humana, por isso a educação à liberdade gera paz no coração[57].

             

Formar a Decisão

 

         No momento de uma decisão se exercita a liberdade, pois “a verdadeira liberdade no homem é sinal altíssimo da imagem divina”[58]. Com a decisão a pessoa já fez um discernimento e tem consciência para agir, fazendo o bem ou o mal.

         Uma decisão feita  buscando a verdade, com discernimento e liberdade, sem constrangimentos psicológicos, procurando a vontade de Deus e não interesses próprios produz paz no coração, como sinal de harmonia interior, ao contrário, terá perturbações e remorsos[59], pois a escolha que se faz revela aquilo que se é “pois se a luz que ha em ti são trevas, quão grande serão as trevas” (Mt 6, 23).  

 

b) Formar ao Seguimento de Cristo

        

         Formamos a consciência do homem para que retornando a sua origem de Filho de Deus, possa redescobrir a sua filiação divina em Jesus Cristo que o amou e se entregou por ele, até a morte de cruz dando razão e sentido ao seu existir que havia perdido com o pecado e com os condicionamentos da sociedade neoliberalista.

 

“O próprio Espírito se une ao nosso Espírito para testemunhar que somos filhos de Deus. E se somos filhos, somos herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo, pois se sofremos com ele para também com ele sermos glorificados” (Rom 8, 16-17).

 

Somos convidados a vigiar, para sermos  fortalecidos “no Senhor e na força do seu poder, pois o nosso combate não é contra sangue e contra carne, mas com principados, contra as autoridades, contra os dominadores deste mundo de trevas, contra os espíritos do mal que povoam as regiões celestiais. Por isso deveis vestir a armadura de Deus para resistir no dia mau e sair firmes de todo o combate” (Ef 6, 10-13).

Cristo no mistério da sua encarnação deu toda a sua vida como resposta total ao Pai em favor da humanidade, por isso nos chama a ser seus discípulos.

Chama cada um pelo nome “Saul, Saul, por que me persegues? Eu sou Jesus, a quem tu estás perseguindo, mas levanta-te...” (At 9, 4-6).

Seguir Jesus é saber escutar a sua voz em meio aos conflitos e descobrir o que Ele deseja, qual a missão a ser realizada, atentos à sua palavra que nos diz: “Este homem é para mim um instrumento que escolhi para levar o meu nome diante das nações pagãs, dos reis, e dos filhos de Israel. Eu  mesmo lhe mostrarei quanto lhe é preciso sofrer em favor do meu nome” (At 9, 15-16).

         O seguimento de Jesus impulsiona a viver na doação total a Deus  seguindo o seu exemplo “amai-vos uns aos outros como eu vos amei, nisto reconhecerão que sois meus discípulo, se tiverdes amor uns pelos outros” (Jo 13, 34-35).         Do encontro com Cristo se toma consciência do que significa ser cristão, tornando-se nova criatura a sua imagem e semelhança, sendo filho no Filho,“ a vida eterna é esta: que eles te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e aquele que enviaste Jesus Cristo” (Jo 16, 3).

O conhecimento de Deus é um dom do Espírito que tem suas raízes no íntimo da alma, fortemente assinalada com o dom da liberdade e da fidelidade, em uma fé profunda  na pessoa de Jesus como caminho, verdade e vida (Cf Jo 14, 6). Portanto este dom liberta  e transforma em nova criatura, através do relacionamento com a Trindade e com os irmãos em uma maior compreensão de si mesmo; pois o fundamento desta consciência cristã vem da fé[60].

 

 

 

 

c) Espiritualidade e Missão       

 

         A relação existente entre a espiritualidade e missão são duas realidades muito amplas. É a vida no espírito que nos faz participar ativa e responsavelmente da missão de Jesus, que não é somente interiorização, mas um comportamento traduzido na vida como fidelidade, disponibilidade, generosidade, etc...

Na espiritualidade cristã temos vários componentes importantes na identificação com a pessoa de Jesus : a imitação, a união, a relação pessoal, o seguimento, em sintonia com a vontade salvadora do Pai. É um processo de assimilação interior dos dons oferecidos por Deus, na liberdade, que se traduzirão em pensamentos (fé), sentimentos na valorização das coisas (caridade) ao ponto que se torne convicção, decisão, através de um compromisso concreto que nasce de uma atitude interior (cf Fil 2, 5-8)[61].

É necessário docilidade ao Espírito Santo[62], para deixar-se transformar interiormente por Ele, para tornar-se sempre mais conforme a imagem e semelhança de Cristo e assim ser sua testemunha autêntica.

Para evangelizar e catequizar é indispensável uma vida espiritual, portanto a vocação cristã é um chamado à santidade e perfeição[63], por isso é necessário harmonizar os dois aspectos que levam ao encontro com Cristo. “A caridade é alma do apostolado”[64], mas a caridade exige do catequista missionário tempo para dialogar com Cristo (oração pessoal), e tempo para servir os irmãos ( sua ação missionária). A espiritualidade abraça toda a vida do cristão (catequista), seja de oração e ação, não é uma técnica, mas um deixar-se guiar sob à ação do Espírito Santo[65].

A nossa sociedade tem necessidade de testemunhas apaixonadas por Cristo e seu evangelho, que fazem experiência de Deus e transmitam com a vida. No mundo secularizado em especial os jovens, eles tem sede de autenticidade, questionando se realmente acreditamos no que anunciamos, e se vivemos o que acreditamos e se anunciamos realmente o que vivemos?[66]

         Na espiritualidade missionária a pessoa se abre aos dons do Espírito Santo, em especial aos de fortaleza e discernimento, que são características desta espiritualidade. É Ele que transforma o cristão em testemunha corajosa de Cristo, da sua Palavra com o dom da sabedoria.

         A busca da experiência religiosa fora da Igreja, é fruto de uma insatisfação pessoal com o cristianismo professado pelos que se dizem cristãos e não testemunham a fé que professam. Se conclui que a catequese realizada foi a base de doutrinas, e não ajudou a responder as perguntas fundamentais da vida, que favorecesse um encontro pessoal com Deus,  consigo mesmo e que pudesse dar sentido a sua existência.

         O futuro da Igreja está em uma consciente e responsável experiência de Deus, iluminada pela Palavra, compartilhada e vivida em comunidade sustentada pelos sacramentos e atenta ao Magistério[67].

 

 

 

d)Fundamentos da Espiritualidade Missionária do Catequista

 

A espiritualidade do catequista missionário será adaptada segundo o seu estado de vida ou seja, laical, religiosa, sacerdotal, porque todos somos chamados a crescer na intimidade com Jesus, conformando-se com a vontade do Pai, dedicando-se no serviço dos irmãos através da prática da caridade e da justiça[68]. É com sua profunda espiritualidade, marcada de muita coragem, entusiasmo e ardor missionário, que ensinará a fé da Igreja e não suas opiniões pessoais, fundamentadas na verdade, acompanhadas do testemunho de sua própria vida[69].

 

O Catequista na sua Espiritualidade será alimentado da:

Ø     Palavra de Deus

Ø     Vida de Oração

Ø     Desejo de imitar Cristo

Ø     Vida Litúrgica e Sacramental

Ø     Comunhão com a Igreja

Ø     Devoção Filial a Maria

 

·        Palavra de Deus

 

A espiritualidade do catequista rumo ao caminho de santidade é alimentada pela capacidade de ouvir o que o Senhor deseja através da sua Palavra, pois o seu ministério é o da Palavra[70]. Somente falará daquilo que soube escutar do mestre no exercício da sua missão profética na comunidade, atualizando-a, tornando-a compreensível para seus irmãos[71], para suscitar conversões e adesão a salvação oferecida por Jesus.

A Igreja recomenda muito a antiga e sempre nova tradição da prática da Lectio Divina (Leitura Orante da Bíblia – LOB), seja individualmente ou comunitária, pois é necessário acender o fogo da evangelização, pois quem encontrou Cristo, deseja anunciar aos irmãos o encontro deste tesouro, por isso o anúncio será adaptado segunda a cultura do ouvinte da Palavra[72].

 

A Leitura Orante da Bíblia se realiza em quatro graus:

 

Ø     Leitura

Ø     Meditação

Ø     Oração

Ø     Contemplação

 

Leitura

 

         Ler e reler e se preciso tornar a ler, até conhecer bem o texto escrito, para assim entrar em relação. Se deve respeitar o texto tal como ele é, não fazendo interpretações precipitadas. A cada momento se descobre coisas novas na Palavra, é necessário estar atento a cada palavra e até mesmo nas suas repetições, pois têm um significado para cada uma. A maneira como foi escrito e por quem, o personagem do texto, o lugar onde estão, o que falam e realizam.Para esta análise tantas vezes será necessário consultar alguns dicionários bíblicos, teológicos, livros, que ajudará na compreensão do texto[73].

         A leitura bíblica não deverá ser feita por simples curiosidade, mas vai além, deverá nascer do profundo amor pela Palavra de Deus que levará a escutar o Senhor que falará na história, na comunidade, na vida pessoal com abertura e docilidade ao Espírito Santo[74].

        

Meditação

 

A meditação é o segundo grau da LOB, após ouvir, ler e assimilar criativamente o texto sagrado, se é convidado a usar a imaginação, palavras e repetição mental de uma frase que tocou o coração, para maior interiorização da palavra. Nos perguntamos o que o texto está dizendo para mim e para nós hoje? Como também poderá coligar com esta realidade? Ou utilizar textos semelhantes[75]

 

Oração

 

         Neste terceiro grau que é a oração, ajudado pela meditação se é convidado a dar uma resposta a palavra ouvida.

         Este é um momento de intimidade pessoal, de diálogo e comunhão amorosa com Deus, que se dá uma resposta aos seus apelos e se pede ajuda,  reconhecendo a pequenez diante da grandeza de Deus, e se súplica, louva, e  torna-se espontâneo o desejo de partilhar na comunidade a nossa oração, que exprime a própria convicção pessoal e sentimentos[76].

 

 

Contemplação

        

         A contemplação é o coração da vida espiritual, neste estado a pessoa faz a experiência do amor de Deus na sua gratuidade, que ama o homem na sua pequenez, renova-o com a força da sua presença, que foi suscitado por meio da sua Palavra. Portanto a contemplação não é intelectual, mas um olhar do coração ao mistério da Trindade que mora em nós, onde sua luz refletirá sobre os irmãos da fé que vivem conosco[77]. O agir do contemplativo será novo, pois a sua maneira de ser, viver e assumir a vida no dia a dia, seja pessoal, comunitária, social, será segundo o projeto de Deus, realizado sob a orientação do mestre Jesus, com à ação do Espírito Santo[78]

 

·        Vida de Oração (intimidade com Cristo)

 

A oração na vida do catequista será a força para o seu agir, pois somente no contato direto com o Senhor, e iluminado pela sua Palavra, transformado com sua graça e aberto à ação do Espírito, para tornar-se mais filho no Filho e testemunha autêntica, pois viu o Senhor e por isso anuncia com convicção a sua fé[79].

A intimidade com Deus que conduz a contemplação, é para uma vida de santidade, que é marcado deste encontro com Cristo, onde nasce a disponibilidade incondicional para a missão. O cristianismo tem necessidade de se distinguir através da arte da oração[80].

 Tantas vezes não se sabe rezar, mas como os discípulos pediram ao Senhor, também se deve pedir “Senhor ensina-nos a rezar!” (Lc 11, 1), portanto a humildade é a disposição para receber gratuitamente o dom da oração, pois o homem é um mendigo de Deus[81].

A vida orante é a resposta ao amor misericordioso de Deus, pois o coração humano sedento, vai ao encontro também da sede de Deus, que deseja doar a salvação gratuitamente, por meio do seu Filho Jesus[82].

A atitude orante conduz a intimidade com Cristo por meio do seu Espírito Santo, pois não se sabe o que se deve pedir e rezar, mas é o Espírito que vem em auxílio, para com Cristo nos unirmos ao Pai[83].

É no silêncio do coração onde o amor de Deus Trindade, toma conta de todo o ser, sendo sua presença transformante, deseja que sejamos sempre mais dignos de estar diante Dele e receber o seu amor misericordioso, te acolhe na situação que estás vivendo, porque “fomos batizados em um só Espírito, para formar um só corpo” (1Cor 12, 3), e todos aqueles que são guiados pelo Espírito de Deus são Filhos de Deus.

·        Desejo de Imitar o Cristo

 

O desejo de imitar Jesus é um processo de crescimento espiritual do catequista missionário, que o levará a ter consciência que o seu coração na sua ação ministerial deverá ter estes sentimentos de Cristo, pois com o batismo se torna participante da vida ministerial de Jesus que deverá levá-lo a uma identificação com o seu ministério:

 

Ø     Profético

Ø     Sacerdotal

Ø     Real

 

Ministério Profético

 

  O catequista missionário que acolhe a Palavra de Deus meditada e contemplada, é chamado a imitar Jesus Profeta na revelação dos caminhos que conduz a Deus, é aquele que assimila o mistério de Deus, “filho do homem come o que te estou dando. Olhei e eis uma mão que se estendia para mim e nela um volume enrolado. Nele estava escrito lamentações, gemidos e prantos. Com este rolo vai falar a casa de Israele. Eu o comi. Na boca parecia-me doce como mel . Filho do homem dirige-te a casa de Israel e transmite-lhe as minhas palavras” (Ez 2, 8-9;3, 2-4).

  A participação ao ministério profético é principalmente com o testemunho da própria vida, acompanhado da palavra na proclamação do Reino de Deus. Este ministério faz com que o catequista seja habilitado à acolher com fé a Palavra do evangelho, proclamando com a palavra e a vida, não tendo medo de denunciar com coragem o mal existente, porque está unido a Cristo o grande profeta.  A  Igreja é testemunha de Cristo Ressuscitado, porque têm a graça do ministério da Palavra[84].

  O catequista exercita o ministério profético na família, na sociedade, no ambiente onde se encontra, deve ter a capacidade crítica diante das situações injustas, buscando o discernimento.

  No ministério profético se realiza na figura dos servo de Yahweh que oferece a sua vida para reparar os pecados do mundo e dos homens entre si. Jesus é o servo do Pai que não hesitou a dar sua vida por cada um de nós (cf Is 49, 1-7).

O profeta é chamado mesmo sob resistência a missão confiada, “ah Senhor Yahweh, eis que eu não sei falar, porque sou ainda uma criança” (Jer 1, 6). Ele é consciente do chamado, foi seduzido por Deus, e se deixou seduzir, deve anunciar e denunciar o pecado e a injustiça corajosamente[85], fala porque é o Espírito de Deus que o impulsiona e não age por sentimento, mas “o que eu te ordenar, falarás” (Jer 1, 7). Têm a grande responsabilidade de transmitir a mensagem de Deus, reconhece pecador, “ai de mim, sou um homem de lábios impuros, um dos serafins voou para junto de mim com uma tenaz. Vê isto tocar os teus lábios, a tua iniqüidade está removida e o teu pecado perdoado” (Is 6, 5.6-7).

 

 

 

Ministério Sacerdotal

 

A espiritualidade sacerdotal do ministério comum dos cristãos é procurar imitar Cristo na sua oferta total de si mesmo, para reconciliar o mundo e os homens entre si e com Deus. Unindo-se ao seu Sacrifício Eucarístico a glória do Pai para a salvação da humanidade.

O sacerdócio de Jesus ao qual nós participamos não é ritual (AT), pois Jesus não pertencia a ordem sacerdotal de Levi, mas de Judá (cf Hb 7, 14; Mt 1, 20ss; Lc 1, 27). A sua atividade é semelhante a dos antigos profetas que a dos sacerdotes, sua atividade suscitava esperança messiânica nas pessoas, no seu desenvolvimento foram interpretadas em líneas do messianismo real, que sacerdotal.

Cristo morre fora do espaço sagrado da cidade e do templo, seu sacerdócio é existencial, que consiste na entrega total do seu ser ao Pai no Espírito para reconciliar os irmãos entre si, realizando para sempre a mediação entre Deus e os homens[86].

Pela participação ao sacerdócio de Cristo, o povo de Deus da Nova Aliança é sacerdote em conjunto, isto é, o sacerdócio comum é de todos os fiéis que professam a sua fé, é o culto existencial dos cristãos que transforma totalmente em fé viva por meio da caridade divina. Sendo a vocação universal a santidade, a serviço de Deus em continuidade com a força do Espírito e da ação de Jesus[87].

O catequista é aquele que no exercício do seu ministério realizado por amor pela salvação das almas, oferece sacrifícios pelas ovelhas confiadas.                              Com suas palavras e testemunho, procura dar sentido ao sofrimento de tantos idosos abandonados pela família e marginalizados pela sociedade.

A espiritualidade sacerdotal é a capacidade de unir-se ao sacrifício de Jesus em todos os atos, trabalhos de todos os dias, orações, iniciativas pastorais, vida conjugal e familiar, doenças, provações, alegrias, conforto espiritual. Tudo suportado com amor e paciência se torna sacrifício agradável a Deus por Jesus Cristo, sendo apresentados na celebração Eucarística, no sacrifício do Corpo e Sangue de Jesus (cf 1 Pd 2, 5)[88].

 

 Ministério Real

 

         Imitar a realeza de Jesus é entrar em contradição com os reis deste mundo, pois o reinado de Cristo é de humildade, simplicidade, onde assume a condição humana para salvar a humanidade dando a graça de se tornar filhos adotivos, pelo sangue derramado na cruz para o perdão dos pecados, segundo o desígnio do Pai, para que o homem pudesse conhecer o mistério da sua vontade realizada no seu Filho Jesus (cf Ef 1, 3-10).

  Jesus cumpriu este ministério real através da figura do Pastor, não  usou cavalos como sinal de conquistas e guerras, mas utilizou um burro que é sinal de  paz e não de ignorância, aceitou tudo sem deixar-se provocar, expressando o seu amor universal para unir os homens na comunhão, simbolizado na figura do Bom Pastor, que dá a vida por suas ovelhas em especial a que está perdida (cf Jo 10).

Jesus exprime com esta parábola o sentimento do seu coração, vai em busca da que se perdeu e está distante até encontrá-la, não têm medo dos perigos, porque cada pessoa é preciosa aos seus olhos de Pastor (cf Jo 10).

O catequista missionário deve encontrar em Jesus o Bom Pastor o seu modelo e guia interior no desempenho da missão de educador da fé. O seu amor deverá ser intenso verso os irmãos, sendo uma das características que o educador deverá ter na imitação do Cristo. A sua caridade é apostólica, pois o catequista missionário é irmão universal, traz consigo o espírito da Igreja, com abertura e interesse por todas as situações das pessoas  mais pobres[89].

Na imitação de Jesus o Bom Pastor, o catequista missionário é impulsionado pelo zelo das almas, inspirando-se na caridade de Cristo por todos os últimos da comunidade, da sociedade, com compaixão, acolhimento, disponibilidade e interesse pelos seus problemas. Somente assim o serviço catequético produzirá frutos, seu testemunho será aceitado, as suas palavras penetrarão o coração, porque são acompanhadas de gestos, que superará raças, credos e ideologias. A fidelidade a Cristo do catequista não poderá ser separada da fidelidade a Igreja[90].

Em Jesus o Reino de Deus é presente na realidade que coincide com a sua predicação e ministério, sendo uma boa notícia, intervindo de maneira decisiva na história humana e no coração do homem, nas sua relações com Deus através da fé e a conversão, que se manifesta também no contato com as pessoas e estruturas que as correspondem (cf Mc 14, 36).

No anúncio do Reino de Deus está a revelação e auto comunicação de Deus que é Pai a qual Jesus vive em uma intimidade única, ao ponto de chamá-lo, Abba-papaizinho e ao mesmo tempo em uma grande predileção pelos últimos e pecadores (cf Mc 14, 36). A função real se apresenta como caridade, serviço e liberdade, que se expressa na liberdade dos filhos de Deus[91].

 

·        Vida Litúrgica

 

         É na celebração dos sacramentos, que o catequista missionário é fortalecido para o exercício do seu ministério, pois na celebração deles é perdoado, alimentado pela Eucaristia fonte e ápice da vida da Igreja, será sustentado pelo amor fraterno, na escuta atenta da Palavra de Deus, proclamada e revelada.

         A Eucaristia é culmine de todos os outros sacramentos para levar a perfeição e comunhão com Deus Pai, na identificação com Jesus seu Filho pela ação do Espírito Santo; esta por sua vez nos faz entrar em comunhão com os ensinamentos dos apóstolos, com a Igreja como sacramento de salvação[92].

                   É a partir da sua experiência de vida litúrgica que o ministério catequético produzirá muitos frutos de salvação, pois a educação litúrgica inicia primeiro com o catequista[93].

 

 

 

 

·        Comunhão com a Igreja

 

  A sua espiritualidade nasce da consciência de sua identidade de cristão e da missão dentro do corpo místico de Cristo. Respondendo ao chamado de Deus, através do enxerimento na Igreja particular, onde desempenhará a sua missão no mundo como sacramento de salvação. Exercendo esta comunhão com os seus pastores no exercício da sua missão de educador da fé através do ministério catequético de crianças, jovens, adultos, com apoio da paróquia e da diocese.

   Será capaz de enfrentar os desafios da cultura atual, com uma boa preparação para o exercício do seu ministério profético recebido no batismo, por meio do exemplo e da palavra na vida cotidiana, onde enviará o Espírito[94]

  A espiritualidade missionária do catequista deve ser caracterizada pela caridade apostólica, que vem do Cristo, e deseja reunir os filhos de Deus dispersos, seguindo o exemplo do Bom Pastor que conhece as suas ovelhas, busca e oferece a sua vida para salvá-las (cf Jo 11, 52; 10).

  O catequista animado do ardor missionário de Jesus, deverá ter um amor profundo pela Igreja, com os mesmos sentimentos de Cristo para com sua Esposa (Igreja), na qual é a transparência visível, do Cristo Profeta, Sacerdote e Rei. Com suas palavras acompanhadas do testemunho e santidade, tendo como fruto a caridade e comunhão, sustentado pela Eucaristia que une em um só Corpo de Cristo que é a Igreja, para assim ser força e testemunho de unidade para a transformação e salvação da humanidade[95].

  Sentir e amar com a Igreja são características de alguém que encontrou Cristo escondido no sinal humilde e pobre dela mesma, que o faz estar em comunhão eclesial, sendo capaz de evangelizar e catequizar[96].

  Estas dimensões se encarna na vida do discípulo de Cristo, que possui estes sentimentos, pois chegará a dizer como o apóstolo Paulo, já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim, a minha vida na carne eu a vivo na fé do Filho de Deus que me amou e se entregou por mim (cf Gal 2, 20).

 

·        Devoção a Maria

 

  A devoção a Maria, sustenta a espiritualidade missionária, pois contemplando Maria no mistério da encarnação do Verbo, se observa a sua disponibilidade a vontade de Deus, mesmo não entendendo muito bem o que estava acontecendo, deixou-se invadir da ação do Espírito e aos poucos o mistério foi se revelando (cf Lc 1, 26-45).

  A disponibilidade de Maria à graça, sob ação do Espírito Santo, é um modelo de vida espiritual profunda. Somente quem é dócil à ação do Espírito, terá a capacidade de escutar sua Palavra, para responder concretamente aos planos de Deus, onde Ele poderá realizar coisas grandes, como realizou em Maria, gerando para a humanidade o seu Salvador Jesus.

  Cada catequista é convidado também a gerar Jesus no coração do homem, a exemplo de Maria (mãe da Igreja que gera novos filhos no corpo místico de Cristo), porque a sua missão ministerial na Igreja é maternal, deverá gerar novos filhos de Deus através dos sacramentos.

   Favorecerá aos catequizandos meios para a prática da solidariedade, e da vida fraterna, para que sejam capazes de sair de si mesmos, como fez Maria quando visitou sua prima Isabel, tornando-se a primeira missionária de Cristo (cf Lc 1, 39ss)[97]. Maria aceitou a vontade de Deus, deixou que a palavra se torna-se Carne no seu ser, para depois doá-lo a humanidade[98]. A espiritualidade cristã se caracteriza pelo esforço em conformar-se sempre mais plenamente ao mestre Jesus (cf Rm 8, 29; Fil 3, 10.21).         

 

2.2.3 Formação Individual e Comunitária

          

            A formação individual e comunitária é importante, para o  desenvolvimento completo da pessoa, pois ninguém foi feito para viver sozinho, mas se cresce e amadurece quando se entra em relação com o diverso (Tu).

 

a) Formação Individual (formar à aceitação da realidade humana)

                  

         Para uma vivência comunitária, seja na família, na comunidade eclesial, enfim em qualquer grupo, é importante não esquecermos que somos pessoas humanas não perfeitas, mas que está em busca de perfeição no Deus de Jesus  Cristo, pois a comunidade deve ser de pessoas que desejam crescer na vida cristã, em um contínuo processo de conversão para testemunhar a comunhão com Deus.

         A comunidade deverá ter um forte entusiasmo pela missão evangelizadora, na preocupação constante em promover o homem, pois a sua característica será o diálogo, que se exprimirá em comportamentos de comunicação e colaboração[99].

         Formar a aceitação dos limites dos outros supõem um trabalho pessoal, para admitir os próprios limites e ter paciência consigo mesmo. Cada pessoa  provém de um ambiente diferente, tanto histórico e cultural, com pensamentos diversos, como conseqüência de uma educação familiar; porém dentro de uma comunidade o que deve prevalecer é o amor fraterno que ultrapassa os limites humanos, pois “a caridade é paciente, prestativa, não é invejosa, não se ostenta, não se incha de orgulho, não procura o próprio interesse, não se irrita, não guarda rancor. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1Cor 13, 4-5.7).

          A comunidade educa a pessoa  para sair do seu individualismo, e fazendo parte dela será educado a contínua conversão, e ao mesmo tempo  a tomar consciência das problemáticas existentes em cada um, nas quais é muito comum os problemas de ordem afetiva.

         Sendo a comunidade educadora, fará com que seus componentes sejam conscientes das dificuldades humanas existentes que poderá impedir o amadurecimento na fé, pois a “a opção fundamental positiva é abertura ao Outro e aos outros. Envolve relações comunitárias de confiança e amor transcendente”[100].

         À abertura supõe a superação da etapa precedente, como por exemplo, a da juventude que é caracterizada segundo Erikson, entre intimidade e identidade, que vivendo-a bem, poderá na fase adulta entrar em um processo de crescimento na fé, evitando o isolamento[101]. É na idade adulta que a pessoa faz sua opção fundamental que o levará a uma entrega total a Deus na comunidade[102].

A  missão do educador  e formador de comunidade é suscitar na pessoa  um encontro consigo mesma, com os outros, com Deus e com o mundo, buscando uma harmonia com estas quatro dimensões[103]. É importante favorecer o desenvolvimento da auto estima, para crescer os sentimentos de confiança e a capacidade de ser útil e necessário aos outros.

 

Dicas de Auto Estima:

 

Ø     Percepção – É a maneira de ver, ouvir, sentir, etc., poderá ser gradual e controlada, como também aprimorada, com o aumento destas capacidades, ajudará no autoconhecimento, sendo essenciais para o progresso da pessoa.

 

Ø     Auto-Motivação – É adicionar o prazer em fazer, que dependerá da persistência da busca racional, emocional e objetiva de realizações em todas as atividades, criando uma nova postura diante da vida. Deverá despertar a motivação através da reativação da sensibilidade da pessoa, estimulando-a a reascender  a chama da procura de auto-realização. A automotivação requer mais do que intenção, mas uma ação efetiva e continuada na criação de uma disposição mental, para ser aberto no que  se aprecia de si mesmo.

 

Ø     Criatividade – Ser criativo com as idéias para ter liberdade de raciocínio. A criatividade exige esforço em se afastar-se do que parece real, palpável, perene, para poder ver as coisas no mundo de maneira nova. A auto-realização exige criatividade, esforço para o autoconhecimento, para a autoconfiança e conhecimento da natureza humana.

 

Ø     Entusiasmo – Somente pessoas entusiasmadas são capazes de vencer os desafios do quotidiano. Entusiasmo é diferente de otimismo. Otimismo é acreditar que uma coisa vai dar certo, já o entusiasmo pertence à pessoa que acredita em si, na sua capacidade de transformar as coisas, e contribuir para atingir suas metas. Com a transformação veloz da cultura, a pessoa vive com muita ansiedade em não poder acompanhar este desenvolvimento para manter-se atualizada. É preciso vencer o desânimo e agir com inteligência e vontade, usando a capacidade de discernir, de distinguir para vencer os desafios de hoje.

 

Ø     Auto-Responsabilidade – É necessário uma boa dose de auto-estima, para evitar o vitimismo com relação à própria vida, não dando culpa ao outro, mas assumir a própria responsabilidade diante de cada situação.

 

Ø     Auto-comunicação – É conseqüência da abertura à vida, pois uma pessoa que possui auto-estima positiva, está aberta para o relacionamento humano, ao invés quem não a possui  não tem condições de comunicar-se pois este seu mal-estar será uma ameaça constante à si mesmo. [104].

 

b)Formação Comunitária

 

         Vivendo em uma sociedade onde se prega o individualismo, somos convidados a combater esta mentalidade através da educação do “sentimento de pertença a um grupo, a uma classe a uma nação”[105], para que a pessoa possa integrar-se e unificar, dar sentido a sua existência, dirigindo seus impulsos, canalizando suas energias e agressividades, dando um significado novo a tudo o que passa a fazer parte da sua vida através da criação de ações em comum, isto é importantíssimo para a eliminação do individualismo.

         A mídia tem sob o seu domínio a mente das pessoas, sabem manipular muito bem através da publicidade, oferecendo suas mercadorias tais como: política, religião, cultura, sexo etc., são bens que deverão ser consumidos, (utilizando-os será uma demonstração da população no seu enxerimento social, por isso se conclui que o seu público é manipulado e subordinado com todas estas informações[106]. O que fazer? Qual a proposta para este homem mutilado pela mídia?

A formação faz descobrir a importância em formar a consciência do homem, para que descubra sua origem, dando um sentido verdadeiro a sua existência humana, que somente poderá encontrar em Jesus Cristo a resposta.

O  cristianismo se apresenta como proposta à aqueles que desejam seguir o convite de Jesus para ser seu discípulo em qualquer estado de vida; pois é próprio o valor cristão do amor que nos faz sermos capazes de dar a vida pelos irmãos, seja quem for, assumindo a cruz de cada dia.

    

·        Formar a Comunhão

 

Formar a comunhão é necessário para o amadurecimento humano e cristão na comunidade eclesial e nos movimentos existentes na paróquia. O processo de crescimento se realiza na complementaridade dos dons, onde todos professam a mesma fé, tendo como modelo a Santíssima Trindade.

A vida cristã caracteriza-se pela comunhão entre seus membros, que depois serão testemunhas desta unidade,  a qual Jesus rezou ao Pai pelos seus discípulos para que permanecessem fiéis ao seu amor dizendo: “não rogo somente por eles, mas pelos que, por meio de sua palavra, crerão em mim; Eu lhes dei a glória que me deste para que sejam um, como nós somos um:Eu neles e tu em mim, para que o mundo reconheça que me enviaste e os amaste como amaste a mim”(Jo 17, 20.22-23).

         A comunidade cristã não é fruto de afinidades psicológicas entre seus membros, mas é dom do Espírito Santo concedido pelo Pai em Jesus que se prolonga no amor da Trindade. A convocação de Jesus que nos remiu cria a fraternidade que é capaz de absolver todas as divisões, ódios e distâncias, que impedem o amor fraterno.

Somente no Espírito Santo se é capaz de amar, perdoar, comunicar, compartilhar sem uma breve disposição psicológica e afetiva, pois a responsabilidade de criar unidade é do Espírito de Jesus[107].

Sendo a comunhão o caminho da comunidade, se deverá buscar sua unidade na oração, na escuta e comunicação da Palavra, na celebração Eucarística e na abertura ao Espírito para discernir os acontecimentos e ser capaz de caminhar com os irmãos no serviço fraterno, compartilhar os bens na atenção aos mais pobres com respeito e aceitação da diversidade existente.

É caminhando em comunhão que o Espírito suscita a diversidade de carismas nos diversos estados de vida e estruturas, tempos e lugares, para desenvolver o ministério dentro de uma comunidade eclesial, favorecendo a responsabilidade de todos na comunhão e missão[108].

 

·        Formar ao Diálogo

        

         Em uma comunidade que busca a maturidade  humana e cristã, é importantíssimo o diálogo, pois no relacionamento interpessoal, necessita-se de comunicação e colaboração, por isso é necessário ter:

 

Ø     Diálogo como disposição interna

Ø     Diálogo como comunicação

Ø     Diálogo como comunhão e colaboração

 

Diálogo como Disposição Interna

 

     A abertura e aceitação da pessoa do outro diante de qualquer  comportamento em um contato interpessoal, ajudará a ser capaz de responder de modo verbal ou com gestos com muita sinceridade, sem fazer nenhum julgamento da pessoa (positivo ou negativo).

Esta capacidade de disposição interior para o diálogo é fruto da segurança de si mesmo conquistada, sendo uma qualidade humana, portanto a pessoa não têm necessidade de defender-se para diminuir a outra[109].

 

Diálogo como Comunicação

 

Com a disposição interior é possível ter comunicação (verbal, gestual, vital), porque existe a estima e aceitação do outro. A autêntica comunicação humana é importantíssimo no período do amadurecimento da própria conversão diante de realidades pessoais, pois a comunicação ajuda a pessoa que está crescendo na fé a não se sentir marginalizada, mas a sentir-se  membro ativo da nova família dos filhos de Deus.

Conseqüentemente cresce o sentimento de pertença a Igreja, sendo hoje uma necessidade, para orientar o homem, secularizado e descristianizado. Somente através de uma verdadeira comunicação que se cresce na fé, na assimilação dos conteúdos da mensagem cristã, e na aquisição dos componentes éticos que lhe permitirá lentamente adquirir as virtudes cristãs[110].

 

Diálogo como Comunhão e Colaboração

 

Tendo à disposição a comunicação, será possível a comunhão e a colaboração. Em uma comunidade onde os seus membros se aceitam mutuamente em suas diversidades, podendo comunicar-se entre si, serão capazes de ajudar-se para conseguir a meta proposta da conversão de todos. Amadurecerão como homens para atuar na missão evangelizadora e na promoção humana no mundo[111].

 

2.3 Conclusão

 

         A intenção deste capítulo foi demonstrar que o homem não é somente inteligência, possui um corpo e um espírito e que necessita ser reeducado para crescer na sua auto- realização como pessoa, imagem e semelhança de Deus.

         O percurso proposto foi para suscitar no catequista o desejo de ser mais, com a dignidade que há cada indivíduo, para não ser arrastado pelos ventos secularizados, fundamentados na razão da nossa existência Jesus Cristo e Senhor da história de cada um.

Ser mais significa redescobrir o sentido profundo da vocação a este ministério com suas responsabilidades, e perceber que devemos estar em continua formação, porque o homem evolui e não para na história.

Esta evolução se dá no conhecimento de si mesmo, e de todos os condicionamentos psicológicos existentes que impedem de viver uma espiritualidade madura solidificada no Magistério, para um seguimento mais consciente da pessoa do Cristo.

O esforço para superar cada obstáculo existente, que são deficiências da própria educação moral, e da consciência, que deverá provocar uma abertura maior a ação do Espírito na própria vida, para ser instrumento de Deus na comunidade que lhe foi confiado.

 

 

 

 


 

[1] Cf Estudos da CNBB, 77“Missão e Ministérios dos Leigos e Leigas Cristãos”, Paulinas, São Paulo 1999, 37.

[2] Cf  J. LIBANIO, “A arte de formar-se”, Loyola, São Paulo 2001, 77-88.

[3] Cf  FdC, 44.

[4] FdC, 12.

[5] Cf  T. STENICO, “Catechisti per vocazione”, ED, Roma 1996, 5-6.

[6] Cf CT, 21.

[7] Cf DGC, 219.

[8] DGC, 49; cf ChL, 27-28; EN, 41.

[9] Cf CR, 281.

[10] Cf CR, 284; FdC, 46-47.

[11] Cf CR, 301.

[12] Cf T.STENICO, “Catequisti per vocazione”, op. cit., 52.

[13] Cf 2ª  SBC, 60.

[14] DGC, 234.

[15] Ibidem.

[16] Cf DGC, 224; PO, 6b; CT, 64.

[17] Cf FdC,15; CT, 65.

[18] DGC, 225.

[19] DGC, 234.

[20] Cf Estudos da CNBB, 77 “Missão e Ministérios dos Leigos e Leigas Cristãos”, op. cit., 22.

[21] Ibidem.

[22] Cf G. MORRA, “Il quarto uomo – Post modernità o crisi della modernità?”, Armando, Roma 1996, 88; CR, 144.

[23] DGC, 234.

[24] Cf 2ª SBC, 108.

[25] Cf GS, 12.

[26] Cf  2a SBC, 122-124.

[27] Ibidem

[28] Cf GS, 15, 16, 17.

[29] Cf S. PALUZZI, “Manuale di Psicologia”, Urbaniana University Press, Città del Vaticano 1999, 197-198.

[30] Cf  2a SBC, 70-87.

[31] Cf  S. PALUZZI, “Manuale di psicologia”, op. cit., 330-352.

[32] Ibidem, 192-198.

[33] Cf PONTIFICIO CONSIGLIO PER LA FAMIGLIA, “Sessualità umana: verità e significato”, Paoline, Milano 2002, 66-77.

[34] Cf G. Morra, “Il quarto uomo”, op. cit, 62-71.

[35] Cf CAMPANHA NACIONAL CONTRA A ALCA, “Para Entender a Alca”, Loyola, São Paulo 2002, 25-30.

[36] P. THAI HOP, “Pobres e excluídos – Neoliberalismo e libertação dos Pobres”,  Santuário, Aparecida, 1998, 170-172.

[37] Cf G. STACHEL, “Spiritualità”, in Dizionário di Catechetica, Elle Dici, Leumann (Torino), 603-604.

[38] Cu 1ª SBC, 219-220; 2ª SBC, 279-280.

[39] Cf CADERNOS CATEQUÉTICOS,“Espiritualidade do Catequista”, Palcos, São Paulo 1998, 6.

[40] CIF CIC, 1780.

[41] CIC, 1784.

[42] Cf 2a SBC, 125-127.

[43] Cf CIC, 1786-1789.

[44] Cf E. ZOFFOLI, “Dio, dov’é questo Dio? Risposta di S. Tommaso”, Lib. ed. Vaticana, Vaticano 1994, 152-160.

[45] Cf CIC, 1704; GS 15, 2.

[46] Cf 2ª SBC, 113. 

[47] Cf CIC, 1707; GS 13, 1.

[48] Cf G. MORRA, “Il quarto uomo”, op. cit., 38-49; CIC, 1779.

[49] Cf CIC, 1779, 1886-1889.

[50] Cf K. POMBO, “Chi é L’uomo?”, Benedettina, Parma 1999, 89.

[51] Cf RH, 15.

[52] Cf RH, 14.

[53] Cf CIC, 1732.

[54] Cf CIC, 1734.

[55] CIC, 1731. 

[56] Cf CIC, 1738.

[57] Cf CIC, 1784; 1786-1789; CdA, 909.

[58] GS, 17.

[59] Cf CIC, 1784.

[60]  Cf B. HÄRING, “Liberi e fedeli in Cristo”, Paoline, Roma 1980, 79-81.

[61] Cf J.E. BIFET, “Spiritualità e Missione”, EMI, Bologna 1985, 14.

[62] Cf RMi, 88.

[63] Cf LG, 39ss; AA, 2ss.

[64] LG, 33 ;  cf AA, 3.

[65] Cf EN, 75.

[66] Cf EN, 76.

[67] Cf Estudos da CNBB, 77 “Missão e Ministérios dos Leigos e Leigas Cristãos”, op. cit., 36- 37.

[68] Cf ChL, 60.

[69] Cf DNC, 389.

[70] Cf 1ª  SBC, 213.

[71] Cf DNC, 44.

[72] Cf  NMI, 39-40.

[73] Cf  2ª SBC, 466-471.

[74] Cf Estudos da CNBB, 86, “Crescer na leitura da Bíblia”, Paulus, São Paulo 2003, 67,97.

[75] Ibidem.

[76] Cf 2ª SBC, 471.

[77] Cf NMI, 43.

[78] Cf  2ª SBC, 471.

[79] Cf DNC, 389.

[80] Cf NMI, 42; RVM, 8.

[81] Cf CIC, 2559.

[82] Cf CIC, 2561.

[83] Cf  NMI, 42.

[84] Ibidem.

[85] Cf ChL, 14.

[86] Cf Estudos da CNBB,77, “Missão e ministérios dos leigos”, op. cit., 64.

[87] Cf LG, 40.

[88] Cf ChL, 14; LG, 11.

[89] Cf J. E. BIFET “Teologia della Evangelizzazione – Spiritualità Missionária”, EMI, Bologna 1992, 53-54.

[90] Cf RMi, 89.

[91] Cf LG, 14.

[92] Cf EdE, 43-45.

[93] Cf 2ª SBC, 361.

[94] Cf  Estudos da CNBB, 77 “Missão e ministérios dos leigos”, op. cit., 124.

[95] Cf ChL, 19.

[96] Cf J. E. BIFET, “ Teologia della Evangelizzazione”, op. cit., 111.

[97] Cf RVM, 11-12, 14-15.

[98] Cf J. E. BIFET, “Spiritualità e Missione”, op. cit., 119.

[99] Cf G. GROPPO, “Teologia dell’educazione”, LAS, Roma 1991, 421-423.

[100] Cf 2a SBC, 90.

[101] Cf G. GROPPO, “Teologia dell’educazione”, op. cit., 418.

[102] Cf 2a SBC, 91.

[103] Cf G. B. COUTO, “O Homem e a sua Realização”, Paulinas, São Paulo, 1968, 19-21.

[104] Cf  N. BRANDEN, “Auto-Estima e os seus Seis Pilares”, Saraiva, São Paulo 1995, 36-37.

[105] Cf 2a SBC, 114.

[106] Cf Ibidem,  115,121.

[107] Cf A. CAEIRO, “Comunidade cristiana, in Diccionario di Catequética, A-I, Vol. I, 475-490.

[108] Ibidem.

[109] Cf G. GROPPO, “Teologia dell’educazione”, op. cit., 415-416.

[110] Ibidem.

[111] Ibidem.