Opinião-
Vicissitudes do Evangelho
Dom
Sinésio Bohn - Bispo de Santa Cruz do Sul
Numa
roda de cristãos alguém deplorou a disputa de fiéis
por tantos novos movimentos religiosos e até observou,
um mercado moderno, sem respeito pela consciência e sem
ética nas relações entre instituições. Uma senhora
alemã atalhou: "É melhor a concorrência
religiosa ou a indiferença religiosa?"
De
fato, a sociedade da Europa Central tem tudo que precisa
para viver dignamente. Mas não dá a sensação de um
povo alegre e feliz, como os pobres da América Latina.
O
abandono em massa da Igreja por parte dos cristãos católicos
para fugir do "imposto da Igreja" estancou. E
mesmo que a freqüência à Missa ou ao culto diminua, há
dez vezes mais pessoas nas igrejas do que nos estádios
de futebol da "Bundesliga" (Liga Alemã de
Futebol).
Outro
fenômeno formidável é a solidão e o anonimato nas
cidades. Há bairros urbanos onde 50% até 60% das
moradias reside apenas uma pessoa. Sem relações
humanas, sem família, sem apoio, como que abandonados.
É a decomposição da sociedade, pela falência da
solidariedade, a exaltação do individualismo e como
resultado o anonimato e a solidão.
Como
evangelizar esta sociedade? No Brasil assumimos três
prioridades: A Palavra de Deus, a renovação litúrgica
e o testemunho da caridade. No âmbito da valorização
e acolhimento da pessoa, do fortalecimento da comunidade
e da sociedade solidária.
O
catolicismo alemão, se vejo bem, procura superar a
frieza e a indiferença religiosa pela renovação
espiritual através da liturgia e de encontros de
espiritualidade. Também pela defesa corajosa da vida,
incluindo a família, e a integridade da criação.
Terceiro, pela transmissão da fé à próxima geração,
com especial atenção às crianças e à juventude.
Finalmente, pelo fortalecimento das relações humanas e
dos vínculos comunitários, tanto no âmbito do próprio
país, como nas relações de solidariedade com os povos
do mundo e de diálogo com outras religiões e outras
culturas.
Para
alcançar tais objetivos existem inúmeras iniciativas,
instituições e milhares de pessoas comprometidas.
Creio que a crise da fé na Europa Central e as
iniciativas das duas grandes Igrejas (Católica e Evangélica)
para superá-la devam servir como alerta para não
trilharmos o caminho da indiferença religiosa, com as
graves conseqüências para a sociedade global.
Mas
também podem servir de luz para iluminar os caminhos da
evangelização em nosso país, o Brasil. Pois renovação
espiritual, defesa corajosa da vida, inclusive a
integridade da criação, transmissão viva e criativa
da fé às novas gerações, com especial atenção à
juventude e à infância; formação de
comunidades autênticas, como fermento de uma sociedade
solidária; são objetivos válidos para prevenir a
decadência da sociedade e manter vivo o Evangelho entre
nós.
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